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A temporada de chuvas começando antes de dezembro aliviou o cenário de crise hídrica brasileira. Com isso, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) prevê um indício de ano melhor do que o inicialmente esperado, com uso mais seletivo das termelétricas — fontes que poluem mais e geram energia mais cara.
“Com essa chegada [das chuvas] antes, e com todo o preparo para uma situação mais extrema, realmente a chuva foi muito bem-vinda e hoje a gente pode dizer com tranquilidade que do ponto de vista de escassez hídrica a gente não tem mais nenhuma indicação de problema, nem de energia nem de ponta, está equacionado”, afirmou Luiz Carlos Ciocchi, diretor-geral do ONS, ao jornal O Estado de S.Paulo, em entrevista publicada nesta 4ª feira (17.nov.2021).
O ONS estava preparado para um final de ano similar ano similar ao de 2020: poucas chuvas, que começariam apenas em dezembro. Mas as chuvas começaram antes este ano e aliviou a situação de crise do SIN (Sistema Interligado Nacional).
Apesar da melhora da crise hídrica, o brasileiro deve continuar pagando mais caro pela energia elétrica. A chamada “bandeira escassez hídrica”, no valor de R$ 14,20 por 100 kWh deve continuar em vigor até abril. A bandeira escassez é quase 50% a mais que o do patamar 2 da bandeira vermelha que estava em vigor em agosto, de R$ 9,49.
Com mais chuvas, o governo suspendeu o programa de redução voluntária de demanda para grandes consumidores industriais. Ciocchi afirmou que o programa não é mais necessário, mas não descarta uma nova avaliação em dezembro.
“O programa está ai, está criado, e vai ser utilizado de acordo com a necessidade.”
RESERVATÓRIOS DAS HIDRELÉTRICAS
O período com mais chuvas será utilizado para armazenar água nos reservatórios. Elevar os níveis agora é obrigatório por lei, já que as usinas precisam ser recuperadas, segundo as regras da privatização da Eletrobras.
Ciocchi afirma que a recuperação dos reservatórios deve levar cerca de 3 anos. “Nos níveis que nós chegamos, não conseguimos recuperar os reservatórios em um ano. Para fazer isso tem que economizar água, para economizar água tem que usar as térmicas”, afirmou o diretor-geral. “Mas nós não vamos encher reservatórios com térmicas de R$ 2,4 mil, então à medida que a gente tenha um pouco mais de folga e se configure com clareza o período chuvoso, a gente vai poder usar térmicas mais baratas para isso.”
O sistema elétrico brasileiro funciona com despachos do ONS. Dependendo da situação, é possível fazer despachos seletivos, ou seja, acionar unidades geradoras de energia considerando o preço. As termelétricas são as mais caras, enquanto as usinas hidrelétricas, solares e eólicas são mais baratas.
Ciocchi avalia que a situação ainda não é normal. Assim, operações que ajudem a retirar a pressão dos reservatórios do Sudeste/Centro Oeste devem ser priorizadas. Os reservatórios dessas regiões são responsáveis por 70% da geração hídrica brasileira e atualmente operam com cerca de 20% da capacidade.
Entre as operações que auxiliam os reservatórios do Sudeste/Centro Oeste está o funcionamento da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Para que ela possa ser utilizada em sua maior capacidade (hidrograma A, com maior vazão de água) é necessário permissão do MPF (Ministério Público Federal) e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis).
“Nem de longe a gente está numa situação normal [de armazenamento de água nos reservatórios das hidrelétricas], e a não manutenção do hidrograma A pode ser bastante complicada para o setor elétrico brasileiro”, afirmou Ciocchi.