Indispensável na mesa de muitos, o feijão carioca, o mais consumido pelos cearenses, saltou de R$ 5 para R$ 11 na maioria dos estabelecimentos comerciais da região caririense. Em tempos de retração na economia e desemprego, a alta no preço de 110% atinge o consumidor, sobretudo o de baixa renda.
Mas quais são os principais fatores que elevaram tão drasticamente o preço, não só do feijão, mais de outros grãos, como também foi o caso do milho? O economista e professor de finanças, Eduardo Carvalho, explica que os efeitos climáticos, seja a estiagem prolongada no Nordeste ou as baixas temperaturas no Sul do País, somados à inflação, foram fundamentais para a alta de muitos alimentos.
"Vários fatores podem ser apontados para explicar o aumento do preço dos alimentos: desvalorização cambial, aumento do preço dos combustíveis, que impacta o custo de frete, repassado para o preço final do alimento, dentre outros", avaliou o especialista.
"Como várias regiões do Estado não conseguiram produzir o suficiente para atender à demanda devido à falta de chuva, o grão está sendo exportado de locais mais distantes do País, o que aumenta naturalmente o preço", acrescentou Erivaldo Barbosa, gerente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce) do município de Iguatu.
Se a produção está comprometida, o consumidor final sente os efeitos no bolso. "É uma cadeia que vai desde o agricultor ao comerciante, um vai repassando o aumento para o outro e quem sente o maior impacto é, claro, o consumidor", pontuou.
AltaSegundo o gerente da Ceasa Cariri, José Marajaig Leite Novais, o preço do saco de feijão de 60Kg que em maio de 2015 estava custando cerca de R$ 140, saltou para R$ 400 em maio deste ano. "O impacto para o atravessador foi de 20% a 30%. Quando esse alimento chega às prateleiras dos mercantis, o preço quase dobra se comparado há alguns meses, pois os produtores e atravessadores querem minimizar os prejuízos", ilustra o gerente do principal centro de abastecimento do Cariri que, somente no ano passado, ofertou mais de 60 mil toneladas de produtos hortifrutigranjeiros.
Outros alimentosAlém do feijão carioca, outras variedades do alimento também tiveram aumento na Ceasa Cariri. O do tipo macassar, produzido no Pernambuco, passou de R$ 170 para R$ 300. Já o saco do feijão preto, oriundo do Sul do País, subiu 35%, chegando a custar quase R$ 50. "Subiu também o milho, mais de 60%, a batata doce, o arroz e outros.
Em contrapartida, o tomate, por exemplo, caiu bastante. O pimentão, também, passou de R$ 40 a saca, para R$ 25", afirmou Marajaig.
Nos dois maiores atacarejos do Cariri, o preço do quilo do feijão de melhor qualidade chega a custar R$ 11. Preço semelhante ao praticado nos mercantis e mercearias de menor porte.
"O cliente reclama mas não há muito o que possa ser feito. Se o preço de compra aumenta para nós, infelizmente temos que repassar ao consumidor. No fim, acaba sendo ruim para todos, pois muitos deixam de comprar ou compram em menor quantidade", justificou o comerciante Naldo Bezerra.
FuturoSe o cenário atual é preocupante, o futuro segue incerto, conforme explica Marajaig. "Não há como prever se o preço cairá. Para o feijão de corda, tudo depende do inverno dos Estados da Bahia e Pernambuco, de onde compramos a maior parte da produção. Já no Paraná e Minas Gerais, principais produtores do feijão carioca, a situação é mais complexa, pois houve grande perda da lavoura, seja pela seca ou pela geada".
Para os técnicos do Instituto Brasileiro do Feijão, o preço deve cair um pouco nos próximos meses, mas volta a subir em setembro, quando começa o plantio da próxima safra.
IncertezaEnquanto a incerteza é posta na mesa - e no bolso - dos consumidores, o velho e bom prato preferido dos brasileiros: o arroz com feijão, está cada dia mais salgado. "É a lei da oferta e procura. Como a demanda é maior que a oferta, o preço sobe", concluiu Erivaldo Barbosa.
Comer foraSe comer em casa o tradicional arroz com feijão está caro, imagine fora. O prato feito (PF), que no início do ano custava R$ 7 saltou para R$ 9. O aumento de quase 13% pesou no orçamento da professora Maria Clara Albuquerque que, devido à correria do dia a dia, fazia várias refeições na rua. "Aos poucos, tive que me adaptar para economizar. As alternativas vão desde acordar mais cedo para preparar a refeição e levar ao trabalho, até andar um pouco mais para comer em restaurantes com o preço um pouco mais em conta", contou a docente, admitindo não ser uma tarefa fácil. "Mesmo pesquisando, não está fácil, está caro em todo canto", lamentou.
Se pesquisar não tem resultado em grandes economias, uma alternativa pode ser a substituição do feijão carioca, pelo feijão de corda. No Mercado do Pirajá, em Juazeiro do Norte, o feijão têm sido a preferência da maioria dos consumidores. "O preço influencia bastante. Como está mais barato que os outros tipo, ele tem saído mais", conta a vendedora Ana Lúcia Oliveira, 57. Os permissionários explicam que a diminuição no preço do feijão verde deve-se ao fato de a produção ocorrer na própria região do Cariri, no município de Brejo Santo.
"Como não vem de fora do Estado, fica mais em conta", acrescenta Antônio José Capistrano, 38. Nas bancas do mercado do Pirajá o preço médio do quilo do feijão verde é R$ 3. Já na Ceasa Cariri, o saco com 60Kg sai por R$ 55. "Em dia de boa movimentação, vendo entre 20 e 25 sacos de feijão, bem inferior aos 60 sacos que vendia por dia no ano passado", finalizou o agricultor Antônio Almeida da Silva.
DesabastecimentoA troca entre os tipos de feijão além, claro, de não agradar todos os paladares, expõe outra problemática. O risco de desabastecimento, caso o quadro de chuva não melhore, já passa a ser considerado. O feijão de corda produzido no Ceará, Pernambuco e Bahia não seria suficiente para suprir a demanda do feijão carioca, ressaltou o gerente da Ematerce. "Não tem mágica, sem chuva, a produção fica amplamente comprometida", acrescentou Erivaldo, ao lembrar que o feijão carioca, que hoje apresenta déficit de oito mi de sacas, "só é produzido no Brasil".
Entrevista: Eduardo Carvalho - Economista e professor de FinançasComo explicar esse aumento nos preços dos alimentos, com destaque para o feijão?A decisão de produzir, por parte das empresas, e a de consumir, por parte dos indivíduos é diariamente afetada pela lei da oferta e da demanda. Nem sempre o preço permanece em equilíbrio, pois existem forças que podem alterar o valor e/ou a relação da quantidade demandada e ofertada. Vários fatores podem ser apontados para explicar o aumento do preço dos alimentos, por exemplo, a desvalorização cambial, que aumenta o preço de insumos importados, além de incentivar a exportação de parte maior da produção, reduzindo o volume de alimentos destinado ao mercado interno. No caso do feijão pode ser creditada também aos fatores climáticos. Nossa região sofre com escassez e irregularidade das chuvas acarretando uma queda na qualidade e na produção de grãos.
Qual o impacto desse aumento na renda das famílias? Quem são os mais afetados?Diante de um cenário econômico adverso, com ajuste fiscal, realinhamento de preços e crises hídrica e energética, os grupos de preços têm gerado grande impacto no orçamento familiar. O impacto do aumento no preço do feijão é sentido por várias famílias. Porém, são as mais pobres que sofrem de forma mais drástica e imediata. O problema se agrava por não encontrarem bem substituto com preço mais barato.
Há uma projeção para que os preços voltem à normalidade?Sim. Porém, as primeiras projeções são de que os preços de alimentos devem sofrer mais elevações diante de safras abaixo do esperado, o aumento dos custos de produção, os efeitos da inflação e da especulação em torno das commodities. Em parte, esse aumento está atrelado a uma instabilidade econômica em que os ofertantes têm buscado alternativas para enfrentar a recessão econômica e o aumento dos custos de produção, entre outros. Tão logo, a economia volte a crescer a tendência é que teremos uma diminuição nos preços. É evidente que isso não ocorrerá de uma hora para outra.
A inflação impacta negativamente neste quadro?Sim. A Inflação é um fenômeno que pode ser entendido como a perda do poder de compra do dinheiro ou o aumento generalizado dos preços praticados no mercado. A inflação da cesta-básica é o principal fator desse aumento generalizado dos preços. O impacto é imediato, as pessoas começam a consumir alimentos com mais racionalidade e eliminam os supérfluos. Isto é preocupante, porque acaba diminuindo as vendas. Muitos comerciantes passam a ter dificuldades em pagar seus fornecedores, e isso propicia um movimento em cadeia em diversos setores da economia, causando um efeito dominó.
Fonte: Diário do Nordeste
Mas quais são os principais fatores que elevaram tão drasticamente o preço, não só do feijão, mais de outros grãos, como também foi o caso do milho? O economista e professor de finanças, Eduardo Carvalho, explica que os efeitos climáticos, seja a estiagem prolongada no Nordeste ou as baixas temperaturas no Sul do País, somados à inflação, foram fundamentais para a alta de muitos alimentos.
"Vários fatores podem ser apontados para explicar o aumento do preço dos alimentos: desvalorização cambial, aumento do preço dos combustíveis, que impacta o custo de frete, repassado para o preço final do alimento, dentre outros", avaliou o especialista.
"Como várias regiões do Estado não conseguiram produzir o suficiente para atender à demanda devido à falta de chuva, o grão está sendo exportado de locais mais distantes do País, o que aumenta naturalmente o preço", acrescentou Erivaldo Barbosa, gerente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce) do município de Iguatu.
Se a produção está comprometida, o consumidor final sente os efeitos no bolso. "É uma cadeia que vai desde o agricultor ao comerciante, um vai repassando o aumento para o outro e quem sente o maior impacto é, claro, o consumidor", pontuou.
AltaSegundo o gerente da Ceasa Cariri, José Marajaig Leite Novais, o preço do saco de feijão de 60Kg que em maio de 2015 estava custando cerca de R$ 140, saltou para R$ 400 em maio deste ano. "O impacto para o atravessador foi de 20% a 30%. Quando esse alimento chega às prateleiras dos mercantis, o preço quase dobra se comparado há alguns meses, pois os produtores e atravessadores querem minimizar os prejuízos", ilustra o gerente do principal centro de abastecimento do Cariri que, somente no ano passado, ofertou mais de 60 mil toneladas de produtos hortifrutigranjeiros.
Outros alimentosAlém do feijão carioca, outras variedades do alimento também tiveram aumento na Ceasa Cariri. O do tipo macassar, produzido no Pernambuco, passou de R$ 170 para R$ 300. Já o saco do feijão preto, oriundo do Sul do País, subiu 35%, chegando a custar quase R$ 50. "Subiu também o milho, mais de 60%, a batata doce, o arroz e outros.
Em contrapartida, o tomate, por exemplo, caiu bastante. O pimentão, também, passou de R$ 40 a saca, para R$ 25", afirmou Marajaig.
Nos dois maiores atacarejos do Cariri, o preço do quilo do feijão de melhor qualidade chega a custar R$ 11. Preço semelhante ao praticado nos mercantis e mercearias de menor porte.
"O cliente reclama mas não há muito o que possa ser feito. Se o preço de compra aumenta para nós, infelizmente temos que repassar ao consumidor. No fim, acaba sendo ruim para todos, pois muitos deixam de comprar ou compram em menor quantidade", justificou o comerciante Naldo Bezerra.
FuturoSe o cenário atual é preocupante, o futuro segue incerto, conforme explica Marajaig. "Não há como prever se o preço cairá. Para o feijão de corda, tudo depende do inverno dos Estados da Bahia e Pernambuco, de onde compramos a maior parte da produção. Já no Paraná e Minas Gerais, principais produtores do feijão carioca, a situação é mais complexa, pois houve grande perda da lavoura, seja pela seca ou pela geada".
Para os técnicos do Instituto Brasileiro do Feijão, o preço deve cair um pouco nos próximos meses, mas volta a subir em setembro, quando começa o plantio da próxima safra.
IncertezaEnquanto a incerteza é posta na mesa - e no bolso - dos consumidores, o velho e bom prato preferido dos brasileiros: o arroz com feijão, está cada dia mais salgado. "É a lei da oferta e procura. Como a demanda é maior que a oferta, o preço sobe", concluiu Erivaldo Barbosa.
Comer foraSe comer em casa o tradicional arroz com feijão está caro, imagine fora. O prato feito (PF), que no início do ano custava R$ 7 saltou para R$ 9. O aumento de quase 13% pesou no orçamento da professora Maria Clara Albuquerque que, devido à correria do dia a dia, fazia várias refeições na rua. "Aos poucos, tive que me adaptar para economizar. As alternativas vão desde acordar mais cedo para preparar a refeição e levar ao trabalho, até andar um pouco mais para comer em restaurantes com o preço um pouco mais em conta", contou a docente, admitindo não ser uma tarefa fácil. "Mesmo pesquisando, não está fácil, está caro em todo canto", lamentou.
Se pesquisar não tem resultado em grandes economias, uma alternativa pode ser a substituição do feijão carioca, pelo feijão de corda. No Mercado do Pirajá, em Juazeiro do Norte, o feijão têm sido a preferência da maioria dos consumidores. "O preço influencia bastante. Como está mais barato que os outros tipo, ele tem saído mais", conta a vendedora Ana Lúcia Oliveira, 57. Os permissionários explicam que a diminuição no preço do feijão verde deve-se ao fato de a produção ocorrer na própria região do Cariri, no município de Brejo Santo.
"Como não vem de fora do Estado, fica mais em conta", acrescenta Antônio José Capistrano, 38. Nas bancas do mercado do Pirajá o preço médio do quilo do feijão verde é R$ 3. Já na Ceasa Cariri, o saco com 60Kg sai por R$ 55. "Em dia de boa movimentação, vendo entre 20 e 25 sacos de feijão, bem inferior aos 60 sacos que vendia por dia no ano passado", finalizou o agricultor Antônio Almeida da Silva.
DesabastecimentoA troca entre os tipos de feijão além, claro, de não agradar todos os paladares, expõe outra problemática. O risco de desabastecimento, caso o quadro de chuva não melhore, já passa a ser considerado. O feijão de corda produzido no Ceará, Pernambuco e Bahia não seria suficiente para suprir a demanda do feijão carioca, ressaltou o gerente da Ematerce. "Não tem mágica, sem chuva, a produção fica amplamente comprometida", acrescentou Erivaldo, ao lembrar que o feijão carioca, que hoje apresenta déficit de oito mi de sacas, "só é produzido no Brasil".
Entrevista: Eduardo Carvalho - Economista e professor de FinançasComo explicar esse aumento nos preços dos alimentos, com destaque para o feijão?A decisão de produzir, por parte das empresas, e a de consumir, por parte dos indivíduos é diariamente afetada pela lei da oferta e da demanda. Nem sempre o preço permanece em equilíbrio, pois existem forças que podem alterar o valor e/ou a relação da quantidade demandada e ofertada. Vários fatores podem ser apontados para explicar o aumento do preço dos alimentos, por exemplo, a desvalorização cambial, que aumenta o preço de insumos importados, além de incentivar a exportação de parte maior da produção, reduzindo o volume de alimentos destinado ao mercado interno. No caso do feijão pode ser creditada também aos fatores climáticos. Nossa região sofre com escassez e irregularidade das chuvas acarretando uma queda na qualidade e na produção de grãos.
Qual o impacto desse aumento na renda das famílias? Quem são os mais afetados?Diante de um cenário econômico adverso, com ajuste fiscal, realinhamento de preços e crises hídrica e energética, os grupos de preços têm gerado grande impacto no orçamento familiar. O impacto do aumento no preço do feijão é sentido por várias famílias. Porém, são as mais pobres que sofrem de forma mais drástica e imediata. O problema se agrava por não encontrarem bem substituto com preço mais barato.
Há uma projeção para que os preços voltem à normalidade?Sim. Porém, as primeiras projeções são de que os preços de alimentos devem sofrer mais elevações diante de safras abaixo do esperado, o aumento dos custos de produção, os efeitos da inflação e da especulação em torno das commodities. Em parte, esse aumento está atrelado a uma instabilidade econômica em que os ofertantes têm buscado alternativas para enfrentar a recessão econômica e o aumento dos custos de produção, entre outros. Tão logo, a economia volte a crescer a tendência é que teremos uma diminuição nos preços. É evidente que isso não ocorrerá de uma hora para outra.
A inflação impacta negativamente neste quadro?Sim. A Inflação é um fenômeno que pode ser entendido como a perda do poder de compra do dinheiro ou o aumento generalizado dos preços praticados no mercado. A inflação da cesta-básica é o principal fator desse aumento generalizado dos preços. O impacto é imediato, as pessoas começam a consumir alimentos com mais racionalidade e eliminam os supérfluos. Isto é preocupante, porque acaba diminuindo as vendas. Muitos comerciantes passam a ter dificuldades em pagar seus fornecedores, e isso propicia um movimento em cadeia em diversos setores da economia, causando um efeito dominó.
Fonte: Diário do Nordeste
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