São Paulo/Brasília. O momento de instabilidade política em Brasília fez com que surgissem iniciativas no âmbito político e produtivo com o intuito de costurar um pacto pela governabilidade. Diante do agravamento da crise política e econômica, senadores da base e da oposição decidiram se contrapor às propostas que causem impacto aos cofres públicos, que têm sido aprovadas nos últimos dias pela Câmara dos Deputados, as chamadas "pautas-bomba".
O movimento ocorre a despeito de eventuais interesses de oposicionistas e até mesmo de integrantes da base pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT). Líderes do Senado do PMDB, do PSDB, do PT e de outros partidos intensificaram as conversas a fim de circunscrever à crise as iniciativas tomadas pela Câmara, presidida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Cunha rompeu no mês passado com o Palácio do Planalto na esteira da divulgação de delação premiada na Operação Lava-Jato que o implicou pessoalmente e acusa o governo de estar por trás do caso.
Numa outra instância, as Federações das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Rio de Janeiro (Firjan) divulgaram nota conjunta ontem em defesa da posição do vice-presidente Michel Temer (PMDB), na qual reafirmam que o momento econômico e político brasileiro "é de responsabilidade, diálogo e ação para preservar a estabilidade institucional do Brasil".
"A indústria brasileira se associa ao apelo de união para que o bom senso, o equilíbrio e o espírito público prevaleçam no Brasil", diz a nota, que foi assinada pelos presidentes da Fiesp, Paulo Skaf, e da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira.
Em meio à escalada da crise econômica e política do governo da presidente Dilma Rousseff, na quarta-feira, 5, Temer, que é responsável pela articulação política do Palácio do Planalto, fez uma declaração à imprensa conclamando o Congresso Nacional a unificar o País.
O vice-presidente disse que "é preciso pensar no País acima dos partidos, acima do governo" e que não há como "trabalhar separadamente".
Um dos gestos de aproximação ocorreu entre senadores na terça-feira, 4, em jantar promovido por Tasso Jereissati (PSDB-CE) com a presença de integrantes da cúpula do seu partido e do PMDB, como Aécio Neves (PSDB-MG), José Serra (PSDB-SP), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o líder do PMDB na Casa, Eunício Oliveira, (CE) e Romero Jucá (PMDB-RR). No encontro, segundo relatos de participantes, ficou acertado que os senadores vão criar um "cordão de isolamento" para impedir a aprovação de "pautas-bomba", que geram mais despesas para a União, pelos deputados. Renan chegou a propor que os senadores não podem permitir que o "País se destrua".
Temer apelou aos líderes do Senado para impedir a votação de "pautas-bomba". O vice-presidente fez um apelo público aos partidos políticos para que juntos ajudem a superar o agravamento da crise.
A avaliação é que não é um pacto "pró-governo", mas sim para encontrar um rumo para a governabilidade. Os senadores consideram que a postura da Câmara - que ontem de madrugada aprovou uma proposta que vincula o reajuste salarial de servidores da Advocacia-Geral da União (AGU) ao de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) - só tem atrapalhado no momento de incertezas na política e na economia.
"Que o Senado seja uma espécie de para-choque, um amortecedor dessas pautas que, sem dúvida nenhuma, não cabem no Brasil que vivemos hoje", disse o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS). Publicamente, a oposição deve continuar a criticar a falta de respaldo político e social de Dilma. Mas, nos bastidores, se comprometeu a não apoiar a votação de medidas que causem impacto fiscal.
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