Alguns produtores do Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi perderam toda a sua produção
Limoeiro do Norte. Irrigantes do Perímetro Jaguaribe-Apodi tentam contornar os prejuízos causados por um vendaval que atingiu os cultivos de banana do tipo pacovan em mais de 500 hectares, causando um prejuízo de R$ 22 milhões. Diante da situação vivida por 161 produtores que foram atingidos, a Prefeitura desta Cidade decretou Estado de Emergência por Desastre Natural Meteorológico, publicado no Diário Oficial do Estado (DOE) no último dia 4 de março.
A gerência da Federação das Associações do Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi (Fapija), juntamente com a Prefeitura, busca apoio do Banco do Nordeste e do governo do Estado para amenizar os prejuízos. O vendaval, de 65 km/h, atingiu o município no dia 18 de fevereiro, às 16h20. Porém, no dia 28 de janeiro outro caso foi registrado.
De acordo com o irrigante Gilmar Carlos, "esses fenômenos são comuns na região, o que afeta a produção de banana. "Já perdi cinco vezes lotes de banana com vendaval. Em questão de minutos, quebra tudo o que a gente passou oito ou nove meses pra colher", lamenta. Desta vez, ele conta que teve perda de 100% dos bananais em todos os seus sete hectares, um prejuízo ainda incalculável, segundo ele.
Para recuperar a área, Gilmar conta que precisará desembolsar cerca de R$ 50 mil. Além disso, para que ele volte a colher, serão necessários nove meses. Sua expectativa e de outros irrigantes é de que os bancos compreendam a situação e refaçam os financiamentos. "Uma coisa é certa e todo mundo aqui já decidiu: não vamos mais plantar esse tipo de banana. Vamos plantar a prata, que é mais resistente ao vento", ressaltou.
Nos últimos sete anos, somente Gilmar teve cinco grandes perdas totais de bananal em decorrência de vendavais.
De acordo com o secretário de Agricultura de Limoeiro do Norte, Otacílio Deocleciano, mais conhecido como Tarcísio, o município tem buscado sensibilizar o governo e dado apoio aos produtores junto ao BNB, que é um grande financiador do projeto irrigado. De acordo com o relatório técnico de avaliação dos danos causados pelo vendaval, produzido pelo secretário, o prejuízo após os desastres ultrapassam os R$ 22,4 milhões, atingindo em sua grande parte pequenos e médios produtores.
Ainda segundo suas informações, uma das atitudes tomadas pelo Município, com representantes dos irrigantes, é buscar junto ao governo do Estado, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), a ativação da linha de crédito com aplicação imediata de recursos do Fundo Estadual de Desenvolvimento da Agricultura Familiar (Fedaf), de modo a reparar danos imediatos juntos aos pequenos agricultores afetados.
Para o gerente da Fapija, Raimundo César dos Santos, houve um retorno positivo junto ao BNB. A expectativa é de que a Superintendência avalie a situação do Perímetro e faça um refinanciamento das dívidas, além da aplicação da Lei Nº 12.599/2012, que prorroga até o fim deste ano de 2015 o prazo para o pagamento de débitos de pequenos e médios agricultores do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo, no qual eles podem ter um abatimento de até 85% da dívida, dependendo do caso.
"Isso, de certa forma, foi uma boa notícia pra nós, porque o produtor vai conseguir se recuperar e quitar suas dívidas junto ao Banco. Tivemos uma sinalização positiva da Superintendência que isso vai ser posto em prática para os irrigantes, não só do Jaguaribe Apodi, mas em todo o Estado", afirmou César.
Além disso, o gerente explicou que também busca, junto ao Banco, o financiamento para implantação de um laboratório de mudas, com o intuito de diversificar a variedade de bananas que serão cultivadas no projeto. Atualmente apenas em Fortaleza e em Santa Catarina os produtores conseguem comprar alguma variedade. A demora, porém, chega a ser de 11 meses.
"Nossa reunião com a Chefia de Gabinete do governador também levantou a questão no sentido de que Estado agilize outras alternativas para atender à demanda de água da Capital, para que ela não fique dependendo só do Castanhão. As projeções mostradas para nós pela Cogerh não foram animadoras e isso pode afetar, e muito, a produção do Perímetro, o que vai comprometer a geração de emprego e renda pra região", alertou César.
Desmatamento
Para a geógrafa Anna Erika Lima, professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) - Campus Baturité, "a Região é conhecida pela prática da fruticultura do tipo convencional, com o uso de práticas de desmatamento da mata ciliar, principalmente em áreas próximas às margens de rios, utilização de produtos químicos e a baixa incidência de ações de reflorestamento".
"Ademais, o entrave mais expressivo perpassa pela retirada da vegetação que promoveria a sustentação do solo o que, invariavelmente, dificulta a fixação de plantas a exemplo das bananeiras. Estas possuem crescimento de até 60 cm em condições de solo fértil e bem adubado, com boa drenagem e provido de umidade suficiente. Com a retirada da mata ciliar, o processo de absorção das águas da chuva e de drenagem é prejudicado", assegura Anna Erika.
Para a professora, "em solos pobres, com drenagem deficiente ou sem a umidade necessária, as raízes apresentam-se delgadas, curtas, em pequeno número, quase desprovidas de ramificações que às fixariam ao substrato. Devido ao período de ventanias, é dificultada a sustentação das mesmas, ocasionando o tombamento das plantas".
Mais informações
Federação das Associações do Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi (Fapija)
Chapada do Apodi, km 12, Zona Rural, Limoeiro do Norte - (88)3423-1386 / (88)3423-2991
Chapada do Apodi, km 12, Zona Rural, Limoeiro do Norte - (88)3423-1386 / (88)3423-2991
Ellen Freitas
Colaboradora
Colaboradora
fonte DN
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