Fonte: Investing.com Brasil
A fabricante paulista de aeronaves Octans Aircraft está prestes a decidir onde vai aplicar um investimento de R$ 50 milhões para a produção de um avião com possibilidade de aplicação tanto civil quanto militar, chamado de projeto Cygnus. A empresa pode transferir sua sede de São João da Boa Vista, no interior de São Paulo, para um estado do Nordeste, provavelmente o Ceará.
“Existe a probabilidade muito alta de transferência da sede da Octans para outro estado, deixando, assim, nossa base no estado de São Paulo. Por questão de sigilo não podemos dar maiores detalhes”, informou a empresa à Bloomberg Línea, acrescentando estar na “fase final das negociações”, evitando confirmar se o Ceará é o estado escolhido para abrigar sua nova sede.
A Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) tem atuado para atrair o empreendimento para a região, oferecendo incentivos.
“Temos convicção que ambas as partes têm em mente que a demora é um fator de risco importante, até porque São Paulo tende a defender a nossa permanência no estado”, diz Jorge Kawachi, responsável pelo projeto Cygnus na Octans Aircraft.
A Octans diz que, nos últimos oito anos, apesar de o país viver um período de recessão na maior parte deste período, os sócios investiram R$ 125 milhões, em valores atualizados, na empresa.
Aposta da fabricante, o Cygnus é descrito em material da companhia enviada à Bloomberg Línea como “uma aeronave de asa alta, com estrutura metálica e alta performance, interior diferenciado, cinco assentos independentes, preço compatível com a concorrência e possibilidade de financiamento pelo BNDES para clientes do mercado nacional (já possui Código Finame)”.
“A aeronave Cygnus na versão atual, destina-se a operação privada e/ou de recreio, nas condições visuais ou de instrumentos, em pistas pavimentadas ou não, e a certificação é requisito dos órgãos certificadores para comercialização, tanto no Brasil quanto no exterior”, acrescenta a fabricante.
Segundo a empresa, a fase inicial do projeto Cygnus teve sua conclusão em janeiro de 2020, quando se deu o primeiro voo, acompanhado pela equipe técnica da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
A partir de sua certificação, a empresa prevê a exportação do Cygnus para todos os continentes e almeja conquistar 10% do market share mundial deste segmento em 10 anos. “Desde a concepção do projeto Cygnus, a Octans estabeleceu parcerias com fornecedores de primeira linha, reconhecidos mundialmente pelo mercado aeronáutico”, informa Kawachi.
A Octans diz ter sido abordada por alguns estados de várias regiões do país. “A indústria aeronáutica, como desenvolvedora e usuária de alta tecnologia, é um segmento estratégico para qualquer país, demanda alto grau de qualificação de seus profissionais, caracteriza-se pela busca contínua por inovação (novos materiais, novos motores, novos processos, novos produtos), sendo assim catalisadora na transformação de cidades e favorece a criação de novos pólos tecnológicos (a exemplo de São José dos Campos, com a Embraer (SA:EMBR3), e Itajubá com a Helibrás). Fomos abordados por alguns estados de várias regiões do país no sentido de transferirmos a sede da empresa e, em função destas abordagens, também fizemos contatos com outros, cujas localizações fossem estratégicas e economicamente importantes”, relatou a companhia.
O executivo da Octans evita identificar esses estados e regiões, mas indica a tendência de transferir sua sede para um estado nordestino. “O Nordeste, em parte dos estados com os quais mantivemos contatos, destacou-se em vários aspectos que nos deixaram muito bem impressionados, seja pela receptividade, pela visão estratégica, capacidade técnica, organização e profissionalismo demonstrados tanto na esfera da administração dos estados, como de alguns municípios. Também chamou a nossa atenção o elevado nível de formação de mão-de-obra técnica e universitária, além de benefícios fiscais e fontes de recursos para financiamentos”, informou a Octans.
Incentivos fiscais
A Sudene já confirmou que a Octans fez contatos com o município de Campina Grande, na Paraíba, e Aracati, Eusébio e Sobral, no Ceará. “A expectativa é de um desfecho rápido, pois existe concorrência, e a partir desta definição, alguns movimentos serão feitos imediatamente”, destacou Kawachi.
A atração de investimentos de outras regiões já foi um capítulo polêmico na história econômica do Nordeste. Nos anos 1990, estados nordestinos utilizaram uma política de benefícios fiscais, incluindo cessão de terrenos para construção de fábricas, abatimento de impostos e capacitação de mão-de-obra, para motivar grupos econômicos a instalarem projetos de geração de emprego e renda, provocando críticas políticas de outras regiões, como o Sul e o Sudeste. O polo calçadista do Rio Grande do Sul, por exemplo, migrou nesse período para o Ceará, como as unidades da gaúcha Grendene (SA:GRND3). As sucessivas propostas de reforma tributária que o Brasil discutiu nas últimas décadas costumam esbarrar , entre outras razões, nas negociações sobre subsídios fiscais entre setores e regiões.