Jaguaribara. Em meio a um clima de indignação, produtores rurais, vereadores, prefeitos e representantes de entidades de classe discutiram, ontem, pela manhã, em audiência pública, realizada na Câmara Municipal desta cidade, a transferência de água do Açude Castanhão para a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), por meio do Eixão das Águas. O reservatório acumulava, ontem, 6,45% de sua capacidade.
A revolta decorre da decisão do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (Conern) que, no último dia 3, autorizou a transferência, por meio de bombeamento, de água do Sistema Castanhão para Fortaleza. "Isso é um absurdo, passa por cima da decisão coletiva dos comitês de Bacia Hidrográfica", disse o vereador e presidente do Comitê da Bacia do Médio Jaguaribe, Daniel Linhares.
Os participantes da audiência frisaram que havia um entendimento de que a água só seria transferida após o fim da quadra chuvosa. "Fomos surpreendidos mais uma vez", disse Linhares. "Em junho próximo, haverá a reunião de alocação de água dos Vales do Banabuiú, Jaguaribe e Salgado e este é o fórum adequado para decisão sobre a vazão de água nos açudes".
No início da quadra chuvosa, o Castanhão acumulava 150 milhões de m³. Ontem, segundo a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), estava com 432 milhões de m³, ou seja, 6,45%. A tendência para os próximos dias é de aumento do volume por causa da cheia do Rio Salgado, afluente do Jaguaribe.
Sem compensação
Na próxima semana, será elaborado um documento a ser entregue ao governo do Estado solicitando a suspensão da transferência de água até o fim da quadra chuvosa e medidas compensatórias para a região. "Não somos contra a retirada de água para Região Metropolitana de Fortaleza, mas não podemos ser prejudicados", frisou o prefeito de Jaguaribara, Joacy Alves dos Santos Júnior (Juju). "Na Capital não tem racionamento, mas aqui tem para moradores e produtores", destacou.
"O governo seca o Castanhão, levando água para indústrias no Porto do Pecém, e para nós ficou a crise econômica, desemprego, esvaziamento da cidade e fuga de piscicultores", disse a vereadora Maria José Martins (Mazé). Segundo os parlamentares, há diversas localidades rurais que enfrentam crise de água no entorno do Castanhão, dependendo de carros-pipa.
O coordenador do Complexo Castanhão, Fernando Pimentel, disse que a gerência da água é da Cogerh, mas destacou a necessidade do uso racional e responsável. "A crise é grave, houve uma melhora com as últimas chuvas, e não podemos repetir erros do passado", pontuou.
Para a vereadora Damiana Martins, o sonho do Castanhão trazer o crescimento da cidade transformou-se em pesadelo. "A renda acabou, os projetos produtivos estão parados e a maioria das promessas dos governos não se concretizou", desabafou.
O piscicultor Francisco Eduardo Almeida (Padim), presidente da Associação dos Produtores de Tilápia do Castanhão, considera um exagero a transferência de água no período chuvoso. "Mal começou a chover já levam a água que poderia assegurar o abastecimento e reinício da piscicultura e de outras atividades produtivas", lamentou.
O coordenador do Núcleo Técnico da Cogerh, em Limoeiro do Norte, Hermilson Barros, esclareceu que a transferência decorre do baixo volume e perda de reserva de água na Bacia Metropolitana, que tem um déficit de 190 milhões de m³ em relação a igual período de 2017. Barros frisou que em decorrência da água acumulada nos rios Jaguaribe e Banabuiú há dois pontos de bombeamento para transferência de água em Morada Nova e Itaiçaba para Fortaleza. "Hoje (ontem) decidimos suspender a retirada de água do Castanhão, as bombas foram desligadas", assegurou. "Jaguaribara precisa conviver com essa dinâmica por causa da crise hídrica e a prioridade é o abastecimento humano", definiu.
Fonte DN
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