Os números parciais divulgados pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) apontam para a quadra chuvosa mais intensa desde 2011. Até ontem, faltando dois dias para o fim do período invernoso, choveu 553.8 mm. A Fundação considera em torno da média de 505.6 mm a 698.8 mm. Em 2011, no último "bom inverno", foram registrados 659 mm.
Neste ano, como já é de costume, os litorais de Fortaleza e Norte foram as macrorregiões que tiveram as melhores médias com 870.6mm e 795.9mm, respectivamente.
Apesar de não ter resolvido o problema da falta d'água, as chuvas de 2017 trouxeram um certo alívio para a população. Segundo a Funceme, fenômenos climáticos mais brandos foram os responsáveis por chuvas melhores.
Com as chuvas que caíram no Estado, o volume total dos 153 açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) aumentou em 100% em relação ao início da quadra chuvosa, pois, em fevereiro, o nível era de 6,5% e, no fim de maio, estamos com 12,5%. Já considerando o mesmo período - de maio de 2016 a maio de 2017-, a variação foi pouca, de 11,6% para 11,9%.
Os açudes que estão sangrando atualmente são: Acaraú Mirim, da bacia do Acaraú; Maranguapinho, Tijuquinha e Itapebussu, das bacias Metropolitanas; Tucunduba, Itaúna e Angicos, da bacia do Coreaú; Gameleira, no litoral. Durante a quadra chuvosa, o Ceará chegou a ter 12 reservatórios sangrando. Apesar da melhoria, os principais açudes do Estado não receberam aporte hídrico considerável. Orós, Banabuiú e Castanhão, por exemplo, estão com volumes de 10,4%, 0,7% e 5,4%, respectivamente.
"As chuvas mais fortes aconteceram na região Norte. Lá, a bacia do Coreaú, por exemplo, está com cerca de 80% da sua capacidade. A do Litoral está com cerca de 50%. O problema está na do Banabuiú, que está em uma situação muito crítica", diz o presidente da Cogerh, João Lúcio Farias. O gestor afirma ainda que o abastecimento do Ceará está garantido neste ano, mas que torce por "bons ventos" em 2018. De acordo com Farias, ainda não se pode fazer uma previsão. "Logo após o fim da quadra chuvosa, nós vamos preparar o planejamento para o resto do ano, mas vamos seguir realizando ações que priorizem o abastecimento humano, principalmente nas regiões mais críticas", comenta.
Além do Interior, Fortaleza e Região Metropolitana continuam em alerta. O sistema Pacoti- Riachão-Gavião, em Pacajus, responsável pelo abastecimento da Capital, está com apenas 48% de sua capacidade. "Precisamos seguir com as restrições no consumo, buscar novas alternativas e trabalhar com a tarifa de contingência para educar o consumidor", pontua Farias
As precipitações de 2017 contribuíram para que o Norte do Ceará eliminasse a ocorrência de seca. Segundo dados do Observatório das Secas, o Estado não tinha uma situação semelhante desde julho de 2016. Na parte central, onde estão as regiões do Banabuiú, Baixo Jaguaribe, Sertão de Crateús e parte do Acaraú, houve uma redução da área de seca moderada e também da área de seca grave. Hoje, segundo o sistema construído a partir de dados de diversos órgãos, os impactos da estiagem são de médio a longo prazo, com exceção de uma pequena área na divisa da Paraíba com o Rio Grande do Norte, onde se verificou seca de curto prazo.
No segundo semestre, a previsão de chuvas é irrisória, o que deve agravar a situação. O que ainda pode-se esperar são as precipitações de pós-estação, que acontecem de junho e julho.
"Entre agosto e novembro a gente tem uma estação bem seca. Não é possível esperar novidades. Não importa o que aconteça no primeiro semestre, entre agosto e novembro. As médias são bem baixas no Ceará", afirma a Funceme. Para 2018, a expectativa é o retorno do El Niño, mas o órgão afirma que ainda é muito cedo para apontar qualquer prognóstico.
Chuvas
Das 7h de domingo (28) até as 7h de ontem, choveu em 108 cidades, com destaque para São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Fortaleza, onde o volume registrado foi o maior de maio: 118mm. Outros municípios como Paracuru, Amontada, Iracema, Forquilha e Aracati também tiveram chuvas com mais de 100 milímetros. Em Fortaleza, o maior volume foi de 24,8mm.
De acordo com o meteorologista Raul Fritz, as chuvas de ontem possuem uma leve relação com as tempestades que atingiram Pernambuco e Alagoas nos últimos dias, mas que não há risco que elas cheguem tão intensas no Ceará.
"Lá eles estão em plena época de chuvas. Além disso, instabilidades climáticas no oceano causaram os fenômenos no leste do Nordeste. É possível que mais chuvas cheguem no Ceará, mas, como estamos no fim da quadra, elas não serão tão fortes, explica o meteorologista da Funceme Raul Fritz.