Na cidade do maior São João do mundo, Campina Grande, na Paraíba, a falta de água se tornou rotina. Hábito desgastante demais, para moradores quem enfrentam um rígido sistema de racionamento há quase dois anos.
O receio de um colapso de falta de água em Campina Grande tem sido assunto também na Assembleia Legislativa da Paraíba, onde um grupo de deputados pediu no dia 8 a criação de uma comissão especial para acompanhar a situação hídrica na localidade e cobrar ações dos governos estadual e municipais.
Não há previsão para acabar essa economia. Muito pelo contrário. É possível que o racionamento se torne ainda mais rígido, caso a chuva não caia nesse município a 112 km de João Pessoa, com o segundo maior PIB (Produto Interno Bruto) do Estado e que está na lista das cidades em situação de emergência. A estiagem já dura ao menos cinco anos.
Campina Grande é abastecida pelo açude Epitácio Pessoa, conhecido como Boqueirão, localizado no município homônimo, afastado cerca de 40 km. Segundo dados da Agência Executiva de Gestão das Águas, o açude está com 5,8% de sua capacidade, quase no vermelho. Boqueirão abastece Campina Grande e outras 18 localidades que enfrentam situação semelhante.
A falta de água nas torneiras causa transtornos. A dona de casa Maria do Socorro Alves relata a situação vivida nos últimos meses. "A gente teve que se acostumar com a falta de água. Hoje eu acordo de madrugada para juntar água para o dia seguinte, é muito triste isso que vivemos. Tem água durante três dias e quatro não", diz. Com o registro de chuvas abaixo da média, a esperança da população vai dando espaço ao desespero. Empresários já externaram o medo de ter que fechar as portas em consequência da falta de água.
Em entrevista no início deste mês, o presidente da Cagepa (Companhia de Água e Esgotos da Paraíba), Marcus Vinícius Neves, disse que não havia "plano B" para o abastecimento das localidades que dependem do açude Boqueirão. Segundo ele, apenas a transposição do rio São Francisco pode reverter a crise hídrica que assola a Paraíba. Ao todo, são 196 municípios em estado de emergência --são 223 no total, ou seja, 88% do Estado.
Governo diz que não há atrasos
A presidente da comissão, a deputada estadual Daniella Ribeiro (PP), encaminhou ao governador Ricardo Coutinho (PSB) um pedido de informação sobre quais obras complementares à transposição estão sendo executadas e qual a previsão de término de cada uma delas.
No início da semana passada, o Ministério da Integração Nacional liberou R$ 63,9 milhões para obras hídricas em três Estados por onde passarão as águas da transposição. No dia 10, o secretário estadual de Recursos Hídricos da Paraíba, João Azevedo, afirmou que o governo tem tentado de "todas as formas tomar as medidas e realizar as ações necessárias que possam minimizar os efeitos de uma estiagem tão prolongada". "Todas as obras estão dentro do cronograma previsto, não há atrasos. O Ministério da Integração afirmou, por diversas vezes, que o prazo é abril."
O Ministério da Integração Nacional reconheceu, em publicação no "Diário Oficial" no dia 11, situação de emergência em 272 municípios na Paraíba e outros seis Estados (Pernambuco, Bahia, Piauí, Sergipe, Minas Gerais e Mato Grosso).
A portaria permite que os gestores podem ser beneficiados com ações do governo federal que buscam minimizar os efeitos da seca nessas localidades, como renegociação de dívidas, além do fornecimento de água através da operação carro-pipa e doação de cestas básicas.
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