Apesar de atrasada diante dos fatos, a reportagem produzida em Fortaleza e no Interior há duas semanas revela também a existência do “Tribunal do Crime”, em que as facções criminosas que comandam o tráfico de drogas no Ceará decretam a condenação para quem desobedecer suas ordens de não matar e não roubar. Quem é apanhado roubando, por exemplo, recebe punições que vão desde tiro nas mãos a uma sessão de tortura. “O pacto é para se ganhar dinheiro”, disse um dos chefes do PCC no Ceará na reportagem.
A lógica procede. Sem assassinatos e roubos nos bairros periféricos, a Polícia relaxa o patrulhamento, e o comércio de drogas avança. Essa prática tem dado resultado positivo para os dois lados. Os traficantes ganham mais dinheiro e o governador obtém alguns pontinhos na sua frágil credibilidade, ao mostrar todos os meses para a Imprensa local a queda nos índices de assassinatos, o que ele batizou como Crimes Violentos, Letais e Intencionais (CVLI).
Todavia, pouco a pouco o pacto dos criminosos vem sendo violado e as taxas de assassinatos voltaram a crescer, embora que lentamente. No mês passado, somente em Fortaleza foram mais de 100 homicídios.
Passeata do Crime
O programa mostrou também para todo o País outra faceta escandalosa da ação das facções criminosas no Ceará: a passeata do crime pelas ruas da periferia de Sobral, cidade da Região Norte do estado (a 224Km de Fortaleza), quando dezenas de bandidos saíram às ruas para comemorar o tal pacto.
Numa demonstração de força e ousadia, os criminosos fizeram Sobral parar durante três dias seguidos, até que a Polícia agisse e prendesse 87 pessoas. Contudo, menos de 24 horas depois, a Justiça anulou o flagrante coletivo realizado pela Polícia Civil e mandou soltar todos os envolvidos. Mais uma desmoralização para o governador e a para a atual cúpula da Secretaria da Segurança Pública.
De resto, ficou para o Ceará mais uma demonstração de incompetência da sua política de Segurança Pública, se é que existe uma. Para o Brasil, a sensação de um estado onde o crime manda, e também desmanda.
Por FERNANDO RIBEIRO
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