Apesar das tentativas de aproximação da presidente da República, Dilma Rousseff, com o Congresso Nacional, o semestre deve ser espinhoso para o Governo Federal, considerando o recado que aliados têm mandado nos primeiros dias após retorno das atividades legislativas. Dois partidos, o PDT e o PTB, já abandonaram a base aliada do Palácio do Planalto. Deputados federais do Ceará admitem dificuldades a serem agravadas nos próximos meses e apontam que tem sido complicado unir correligionários em defesa do governo.
Na noite do último dia 3, a presidente Dilma reuniu-se com lideranças partidárias da Câmara Federal e do Senado e presidentes de partidos para pedir cooperação em relação à chamada pauta-bomba por incluir projetos que elevam despesas da União em plena crise econômica e tentativa de ajuste fiscal. A expectativa é que líderes levassem o apelo da presidente a seus liderados, deputados e senadores.
No entanto, os afagos do Governo não surtiram efeito entre aliados. Um dia depois da reunião puxada pelo Planalto, votando contra orientação da maioria dos líderes de partidos aliados, o plenário da Câmara decidiu votar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 443, que garante aumento do teto salarial para advogados públicos e delegados de Polícia. A orientação de lideranças aliadas ao governo era para adiar a votação, o que foi rechaçado pelo plenário. Na madrugada de quinta-feira, o substitutivo à PEC foi aprovado.
Sob condição de anonimato, parlamentares cearenses apontam os partidos com índice mais elevado de infidelidade à orientação das lideranças: PSD, PP, PTB e PRB. Na quarta-feira, o líder do PTB, deputado Jovair Arantes (GO), anunciou, no plenário da Câmara, que o partido votaria as matérias que estão na Casa de forma independente.
O deputado federal cearense Arnon Bezerra (PTB) concorda que o semestre será difícil para o Governo e alega que não houve reunião partidária após o encontro com a presidente Dilma. Acrescenta que o líder do PTB, Jovair Arantes, teria pedido sua opinião sobre ir ou não à reunião com a chefe do Planalto.
"Eu disse que sim, que sou favorável. Nesse instante é hora de unir forças, o projeto é maior do que as pessoas", declarou Arnon horas antes de o PTB se intitular independente nas votações da Câmara Federal. "Não pode tornar isso um campo de guerra", complementa.
Infidelidade
Líder do PDT na Câmara dos Deputados, André Figueiredo rechaça a acusação do líder do Governo na Casa, o também cearense José Guimarães (PT), sobre a infidelidade da sigla enquanto esteve na base aliada. O parlamentar foi à tribuna da Casa, na quarta-feira à noite, dizer que o partido não se considera mais um aliado do Governo.
Figueiredo relata que, no encontro com a presidente Dilma, ela foi a única a utilizar a palavra e limitou-se a reivindicar apoio do Congresso em votações que comprometam os cofres federais, pedido que o deputado deixa claro que a legenda não tem como cumprir. "Sempre fui muito claro, o PDT se inseriu na base do governo, mas nunca se colocou na posição de subserviência, principalmente quando envolve bandeiras do partido", ressalta.
O pedetista atribuiu o déficit no caixa do Governo Federal à política monetária adotada pela equipe econômica do Planalto. "Quem gera mais pauta-bomba para o governo é o Conselho de Política Monetária do Banco Central, a cada meio ponto que aumenta na taxa Selic", criticou, detalhando os apelos da presidente Dilma Rousseff na reunião com os partidos aliados.
"A reunião teve uma característica de formalidade, ela externou com muita serenidade o planejamento do governo para o segundo semestre restante do mandato e pediu ajuda da base para enfrentar os problemas, pediu ajuda sobre algumas pautas mais complexas, sobre os vetos ao aumento salarial do Judiciário. É um direito do governo pedir isso ao Congresso", opina.
André Figueiredo diz que, enquanto o PDT estava como base aliada do Governo Federal, sempre foi honesto ao assumir publicamente as posturas que tomaria, mesmo quando elas contrariavam os pedidos do Planalto.
Cooperação
O líder do PROS na Câmara Federal, o deputado Domingos Neto, informa que fez reunião com os correligionários para repassar os pedidos da presidente Dilma Rousseff sobre pautas que aumentem despesas da União. Entretanto, reconhece que nem todos os colegas demonstraram tom de cooperação com o Governo. "A bancada compreendeu em parte", informa.
Domingos Neto explica que alguns deputados do PROS estão insatisfeitos com a postura do Governo. "Alguns têm bandeiras de corporativismo (em relação ao aumento salarial de determinadas categorias) e defendem as carreiras. E outros têm críticas fortes ao Governo e por isso votam contra", justifica.
O deputado federal Chico Lopes (PCdoB) diz que seu partido tem feito esforços para apoiar o Governo em momento de crise, mas se resigna ao apontar que a pauta da Câmara Federal é decidida pela presidência da Casa, comandada pelo deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Somos da base e estamos tentando apoiar o governo no sentido de não criar problemas para o ajuste fiscal", afirma.
Lorena Alves
Editora assistente fonte DN
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