Perspectivas por El Niño entre dezembro e fevereiro próximos indicam a continuidade do cenário atual
Fortaleza. A quadra chuvosa de 2015 no Ceará teve precipitações 30,1% abaixo da média, conforme análise da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), divulgada ontem. De fevereiro a maio deste ano choveu apenas 424,6 milímetros no Estado, quando o esperado era de 607,4 mm, tendo como base a climatologia histórica (1980-2009). Se até dezembro próximo, durante a época da pré-estação, não ocorrerem precipitações de forma satisfatória, esta poderá ser a pior seca de quatro anos no Ceará desde 1910.
A situação é ainda mais alarmante levando em conta as projeções para 2016. Segundo o órgão meteorológico cearense, as águas do Oceano Pacífico estão 2,5 graus Celsius acima do normal para esta época do ano, o que configura 85% de chance de haver El Niño entre dezembro de 2015 e fevereiro de 2016. O fenômeno climático provoca a descida de ar na região Nordeste do Brasil, dificultando a formação de nuvens de chuva e afetando a quadra invernosa.
"Pelo que as projeções indicam, a preocupação com o quinto ano de seca tem que ser levada muito a sério", considera o presidente da Funceme, Eduardo Sávio Martins. Em 2015, o Ceará, assim como toda a parte norte do Nordeste Brasileiro, sofreu a influência negativa do El Niño.
A falta de chuva afeta diretamente a recarga dos reservatórios, assim como a agricultura de sequeiro, que não utiliza sistemas de irrigação e depende apenas da água que vem do céu. Dos quatro anos seguidos de seca que o Estado enfrenta, o pior foi 2012, levando em conta os índices pluviométricos. Entretanto, no que diz respeito ao nível dos açudes, este ano tem se apresentado com o cenário mais preocupante. Em junho de 2013, o nível dos açudes cearenses estava em 43%. No mesmo período do ano seguinte, havia 32% da capacidade acumulada, enquanto, em 2015, há apenas 18,8% nas represas do Estado, devido ao impacto acumulado.
Déficit
Em comparação com o ano anterior, o período de fevereiro a maio de 2015 foi pior que o de 2014, em relação à quantidade de chuvas. No ano passado, as chuvas ficaram 24,2% abaixo da média. Em 2013, as precipitações foram 40% menores do que os registros históricos, e em 2012, pior ano da seca, choveu 50% a menos do que o esperado.
Pós-estação
Embora a quadra chuvosa no Ceará tenha encerrado em maio, têm sido registradas ocorrências de algumas precipitações, principalmente no centro-norte do Estado. Estes eventos são ocasionados por fenômenos conhecidos como Ondas de Leste, característicos do período da pós-estação invernosa.
Entretanto, apesar de alimentarem a esperança da população, estas precipitações são insuficientes para recarregar os reservatórios, sendo esperados apenas 37,5 mm, 15,4 mm e 4,9 mm, nos meses de junho, julho e agosto, respectivamente. "Se você olhar a climatologia do Ceará, 70% das chuvas ocorrem na estação chuvosa", lembra Eduardo Sávio Martins.
A região do Estado mais acometida pela falta de chuvas em 2015 foi a jaguaribana, apresentando desvio negativo de 42%, seguida pelo Sertão Central e Inhamuns (-37,5%) e região da Ibiapaba (-32,7%).
Por outro lado, a parte do Estado que menos sofreu com a baixa pluviometria em 2015 foi a macrorregião do Litoral de Fortaleza, que teve 9,2% de chuvas abaixo da média. O Litoral Norte e o Litoral do Pecém também se aproximaram de suas marcas históricas, porém, ficaram abaixo do esperado, com desvios percentuais de -14,8% e -11,9%, respectivamente.
Dos 153 açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará (Cogerh), 112 estão com volume inferior a 30%. Apenas três reservatórios, de pequeno porte, estão com volume acima de 90%.
A maior seca já registrada no Estado aconteceu de 1979 a 1983, com cinco anos seguidos de poucas chuvas. Caso o próximo ano também seja de precipitações insuficientes, o período contemporâneo poderá ficar marcado como a pior seca enfrentada no Ceará, de acordo com os registros históricos.
Bruno Mota
Repórter
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Fonte /DN/
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