Para o cidadão quixadaense que acompanha o desenrolar da Operação Lava Jato – que investiga um gigantesco esquema de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras e políticos, deflagrada em março de 2014 -, os fatos narrados pelos grandes meios de comunicação do país podem parecer um tanto distantes. Mas não é bem assim. O esquema sujo apelidado de petrolão e que tem sugado os recursos da principal empresa brasileira pode ter influenciado diretamente pelo menos uma campanha eleitoral neste município do Sertão Central cearense.
Conforme mostram dados do Tribunal Superior Eleitoral, em 30 de setembro de 2004 a empresa Camargo Corrêa fez doações em dinheiro para a campanha eleitoral do então prefeito de Quixadá e candidato à reeleição Ilário Marques. O valor doado na época foi de R$ 25.000,00. A correção monetária com juros sugeridos de apenas 1% ao mês indica que o valor alcançaria hoje o montante de mais de R$ 150.000,00. Veja os destaques abaixo.
Coincidentemente, nesta segunda-feira, 16, o Ministério Público Federal denunciou, na 10ª fase da Operação Lava Jato, 16 pessoas que estão sendo acusadas criminalmente pela primeira vez, e um dos nomes é o do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, acusado de receber dinheiro de propina através de doações oficiais ao partido dos trabalhadores. A destinação dos valores desviados seria o abastecimento de caixas de campanhas petistas por todo o país.
“Temos amplas provas que Vaccari participava de reuniões com Pedro Barusco, Renato Duque e empresários para tratar de pagamento de propina em doações eleitorais”, diz o procurador, que explica que as doações ao PT eram descontadas da “dívida” referente à propina à diretoria de serviços da Petrobras. Ele disse que, entre as provas contra Vaccari, já está o depoimento do vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Leite, de que pagou propina ao PT através de doações oficiais, a pedido de Vaccari.
Apesar de tais graves denúncias, na última sexta-feira, 13, Ilário Marques defendeu seus companheiros de partido durante participação num programa de rádio da emissora Central FM.
DOADORA INVESTIGADA
Conforme mostraram as investigações, a empresa que ajudou Ilário Marques a se reeleger prefeito de Quixadá em 2004 era parte de um cartel que se perpetuava nas licitações bilionárias das maiores obras e equipamentos para exportação e refino de petróleo. De fato, a Camargo Corrêa é uma das líderes do setor de obras públicas há décadas e conhece segredos de outras construtoras, políticos e governantes de hoje e do passado.
Na foto acima, Marques aparece ao lado do ex-presidente Lula e dos ex-presidentes da Petrobras, José Sérgio Gabrielli e Graça Foster, por ocasião da inauguração da unidade de biodiesel em Quixadá.
Causa, de fato, significativa estranheza a constatação de que o ex-prefeito petista tenha se beneficiado de doações da Camargo Corrêa. Qual o interesse da empresa com tais doações? Qual a relação entre essas doações e a ampla sujeira constatada pela Polícia Federal e denunciada pelo Ministério Público à Justiça? Terá sido esta a única vez que uma empresa envolvida com a corrupção na Petrobras beneficiou o ex-prefeito quixadaense? Estas são perguntas que merecem ser analisadas com cuidado.
FATO CONSTRANGEDOR
Para o petista Ilário Marques – que também é presidente do diretório municipal do PT em Quixadá -, bem como para o próprio partido, a constatação de que uma de suas campanhas eleitorais pode ter recebido dinheiro de esquemas gigantescos de corrupção parece realmente constrangedora. Em parte, tal constatação tem o efeito de comprometer a argumentação típica usada por ele e por seus pares locais quando se posicionam a favor do combate à corrupção.
Realmente, os fatos acima podem levar a população quixadaense a uma ampla reflexão sobre tal questão, e exigem do político as devidas explicações. Existe conexão direta entre Ilário Marques e a Camargo Corrêa ou as doações da empresa ao PT foram realmente distribuídas para financiar campanhas por todo o Brasil, tendo sido Marques apenas um dos muitos beneficiados? Por que o PT de Quixadá aceitou doações desta empresa? Sob que condições o fez? Será isto apenas a ponta de um iceberg? Há muito para ser explicado. Incrivelmente, a corrupção investigada na Operação Lava Jato pode ter estendido seus tentáculos à Terra dos Monólitos.fonte :.monolitospost
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