A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) do Ceará informou, em nota, que a Polícia Civil (PCCE), por meio do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPGV) e do Departamento de Inteligência Policial (DIP), já identificou suspeitos de envolvimento na divulgação das mensagens.
A Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) abriu investigação sobre o caso, que será tratado como ato infracional análogo ao crime de indução ou instigação ao suicídio, previsto no artigo 122 do Código Penal. A reportagem questionou à PCCE se alguém foi preso ou apreendido, mas ainda aguarda resposta.
Henrique Soárez, diretor de escola e representante do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe), afirma que a instituição está ciente dos casos, e que “não é a primeira vez que se depara com esse tema, de modo que todas as escolas têm essa como uma preocupação constante”.
Segundo o educador, “cada uma das escolas está cuidando dos seus alunos de forma individual”, enquanto o Sinepe está “interagindo com as autoridades locais e nacionais para organizar uma ação de orientação para as famílias”.
A prioridade é garantir que ninguém faça nada. Tem algum aluno em risco? Vou cuidar dele. A segunda coisa é orientar: que se isso tudo foi brincadeira, não é algo que se faça.Henrique SoárezMembro do Sinepe
Em nota, o Ministério Público do Estado (MPCE) cobrou das escolas estratégias “desde o monitoramento do alunado, notadamente daqueles que se encontram na faixa de maior sensibilidade para o tema, bem como a realização de campanhas universais e específicas, além da capacitação contínua do seu corpo funcional”.
O órgão ressaltou, ainda, os efeitos da pandemia sobretudo à saúde mental de crianças e adolescentes, e destacou a importância do não compartilhamento de postagens ou replicação de conteúdos que incitam o suicídio.
“Crianças e adolescentes também têm depressão”
A psicóloga Layza Castelo Branco, professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e especialista em psicologia da adolescência, avalia que os “convites” podem ser “tanto uma brincadeira, usando a palavra suicídio como metáfora; como algo feito por alguém em profundo sofrimento psíquico, adoecido”.
Por esse motivo, a profissional orienta que a abordagem junto aos adolescentes não deve ser punitiva, julgadora, mas no sentido de compreender o que têm sentido, inclusive em relação às demandas escolares, que podem ser excessivas em algumas épocas do ano.
É crime, tem punição, sim, mas temos que tentar entender: se na nossa sociedade adolescentes estão brincando com suicídio, qual é a nossa responsabilidade?Layza Castelo BrancoPsicóloga e professora da Uece
Layza destaca que os pais ou responsáveis podem e devem questionar os filhos sobre o assunto “sem tabus”, uma vez que tem se notado “uma banalização da questão”. “É perguntar se o filho viu os ‘convites’, o que achou, o que significa pra ele. Ouvir”, frisa.
“Quem faz uma brincadeira dessa não tem noção do quanto atinge e machuca tanto pessoas que já perderam parentes por suicídio como as próprias pessoas que estão adoecidas e pensam, de fato, nisso. Essa não é uma questão banal”, alerta.
Onde buscar ajuda
Quem está em sofrimento não está sozinho. Diversos serviços públicos no Ceará oferecem escuta qualificada e profissional para ajudar.