Aquele não foi um dia simples de corte de arroz, em Morada Nova, para Carlos Alberto Maciel. Betão, para os íntimos, tentava ajudar o pai em um dia de trabalho como agricultor quando o episódio doloroso ocorreu. "Por um descuido", frisa, "perdi meu braço". Aos 12 anos, em 1989, amputou dois terços do braço direito após se acidentar em uma máquina de bater arroz. O que para um adolescente poderia paralisar, para Betão virou força.
O menino que cresceu dando as primeiras braçadas no Rio "Banabuiú", que em tupi-guarani significa "Vale das borboletas", também voou. E escolheu o esporte como reinvenção. Em 2004, soube que existiam as modalidades para pessoas com deficiência. E aí foi buscar desbravar diversas delas.
"Em 2005, comecei no atletismo (lançamento de disco, arremesso de peso, lançamento de dardo). Fiquei até 2007. Eu tinha grande curiosidade de qual seria a minha classificação na natação, se eu me daria bem, e fui", comenta.
A experiência vingou. Hoje, Carlos Alberto corre mundo se destacando nas piscinas paralímpicas. Betão foi ouro no Paranpan de Guadalajara, em 2011. Faturou, em 2015, a medalha de bronze no Parapan de Toronto.
"Desde 2008, eu sou campeão brasileiro na categoria SB8", orgulha-se.
Aos 41 anos, Betão nutre um sonho e pode realizá-lo exatamente 30 anos após ter perdido dois terços do braço direito. "Eu tenho um sonho de encerrar a minha carreira no Parapan-Americano, de Lima, em 2019. Porque o próximo, eu vejo muito difícil de conseguir ir. Esse, eu tenho chances reais. Essa seria a minha despedida pela Seleção Brasileira", desabafa.
E é dentro de coletivos, vendendo rifas, que ele tenta conseguir recursos para chegar ao almejado destino: a competição que ocorrerá de 23 de agosto a 1º de setembro do próximo ano e será a maior da história, com 1.890 atletas, de 33 países, em 17 modalidades. O nadador paralímpico está vendendo os pontos da rifa ao valor de R$ 5 nos ônibus para juntar dinheiro pensando no treinamento. "Estou rifando duas toalhas que eu ganhei do Parapan de Toronto 2015, uma que eu ganhei do Comitê Organizador e a outra da Nike, e uma jaqueta impermeável. Peguei material que estava guardando e botei para rifar tudo em prol da minha preparação", afirma.
Por imbróglio na inscrição, Carlos ficou sem a bolsa do Ministério do Esporte, que auxilia os atletas, em 2018. A do próximo ano, já está garantida. Por conta da ausência de recursos, os treinos deste ano foram menos constantes. Mas nem por isso menos intensos. Betão mora em Cascavel, na Região Metropolitana de Fortaleza. Treina duas vezes por semana na cidade e está voltando a se dedicar nas piscinas do Náutico, em Fortaleza. "Vou vender a rifa nos ônibus até março do próximo ano, quando a minha próxima bolsa vai sair. Quando eu vendo bem (dentro dos ônibus), eu fico um ou dois dias sem ir. Paro alguns dias". Em maio de 2019, Betão terá pela frente o Open Brasil, seletiva para o Parapan. Em maio, a primeira etapa do Brasileiro. Depois, começa a ansiedade até julho, quando deve sair a lista dos convocados para o Parapan de Lima. "Eu deixo bem claro para as pessoas que não estou passando fome e nem necessidade.
O objetivo é me dar condições de treinamento e alimentação. Fui ouro e bronze já. No Parapan de Lima, quero ser prata. Fechar a coleção", afirma. "Estou vendendo minha rifa, o pessoal comprando no meu Facebook Carlos Alberto Maciel. Lá tem como você pode me ajudar também. Quando vendo a rifa, as pessoas não me dão só dinheiro, me dão palavra de conforto e ânimo", finaliza. Em 2019, o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) levará a maior delegação dele a uma edição de Jogos Parapan-Americanos.
A ideia é ter uma equipe com cerca de 300 atletas, que superarão os 272 dos Jogos de Toronto.