A saída de cubanos do Mais Médicos foi especialmente sentida em Morada Nova, a 167 quilômetros da Capital. Era o município do Vale do Jaguaribe, de 62 mil habitantes, que, em todo o Estado, mais recebia cubanos no programa. Ao todo, eram 21, conforme a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), todos lotados em unidades básicas de saúde (UBS) e partes do Programa Saúde da Família (PSF). Atualmente, com a saída dos profissionais, apenas quatro equipes de atenção básica estão atendendo a população.
Enquanto as vagas do novo edital não são preenchidas, a população segue em modo de espera. Sem médicos, na UBS Aruaru I, zona rural do município, a técnica de enfermagem Maria do Socorro Alexandre Batista e a assistente administrativa Maria Elieuda Freitas tiveram de dispensar uma paciente que precisava renovar uma receita de uma medicação controlada. "É triste, mas é verdade", comenta Elieuda, que trabalha em uma UBS que atendia 578 famílias em setembro.
"Vários atendimentos marcados, pré-natais, tivemos que desmarcar ou, o que tinha marcado para hoje, nós mesmo estamos atendendo", diz a enfermeira Valdisa Bezerra, 30, de uma outra UBS de Aruaru. São João do Aruaru, o maior distrito de Morada Nova, é também o mais afetado. São três unidades de saúde básica na localidade, todas com equipes capitaneadas por médicos cubanos.
Coordenadora de Controle, Avaliação, Regulação e Auditoria da Secretaria da Saúde de Morada Nova, Emanuella Machado estima que, somados, eles realizavam entre 8 e 10 mil atendimentos por mês. "Imagine aí, de 8 a 10 mil pessoas sem atendimento médico", questiona. Ela qualifica como "gritante" o impacto das saídas dos cubanos no local. A secretaria municipal teme uma superlotação na única unidade hospitalar de urgência e emergência da cidade.
"A nossa quantidade de transferência vem sendo muito grande. São três ou quatro por dia, só no horário de atendimento da unidade", afirma a enfermeira Samara Rabelo, também de uma UBS de Aruaru. "Acaba que superlota essa unidade hospitalar, com pacientes que deviam estar sendo atendidos na unidade básica. Pacientes que estão tendo acompanhamento de hipertensão, diabéticos, gestantes que precisam de pré-natal?", complementa Emanuella.
Outro motivo de preocupação é a extensão territorial do município, que tem 2.778 quilômetros quadrados de área. Existem distritos que chegam a ficar a 60 quilômetros da sede, cita Beth Soraiah Raulino Girão, coordenadora de Atenção Primária.
"A gente já ouviu relatos de usuários que dizem gastar em torno de R$ 120, R$ 150 com carros fretados. Para uma comunidade pobre, fica muito complicado", afirma.
Sobre a reposição das vagas no novo edital do programa, Beth diz não ter certeza se todas serão preenchidas, mas se mostra otimista. "Profissionais do Mais Médicos já entraram em contato com um ou outro profissional que já fez parte do quadro do Município e eles estão demonstrando interesse em vir para Morada Nova".
E completa: "Então, isso já nos deixa mais tranquilos. Quando recebemos a notícia, ficamos muito assustadas. O que foi nos acalmando foi esse feedback. Pelo fato de nós sermos o município com o maior número de vagas gera também toda uma expectativa e eles acabam se interessando mais".
Especiais
A agricultora Ana Lúcia Silva Oliveira, 35 anos, fez o pré-natal de três filhos com cubanos — inclusive, o mais novo, Marcelo Pietro, de 5 meses. A lembrança dos profissionais a faz chorar. "Eu vim na segunda-feira (19) com a esperança de encontrar eles ainda. Mas eles não vinham mais. É muito ruim, muito triste mesmo", afirma. A "parte humana", para ela, era o grande diferencial dos médicos. "Aqui tinha médico, mas não era como eles. Não eram tão especiais quanto eles", afirma. Fonte o povo
Morada Nova fica sem 21 das 25 equipes |