Limoeiro do Norte. A redução da oferta de água para os perímetros irrigados Jaguaribe - Apodi e Tabuleiro de Russas provocou uma situação de crise, agravada nos últimos dois anos: queda significativa da produção de grãos, fruteiras, leite, capim e sementes. Mais da metade das áreas de cultivo e pivôs de irrigação estão abandonadas. Milhares de trabalhadores perderam o emprego no campo.
A diminuição das áreas de produção agrícola afeta a vida dos produtores rurais de culturas permanentes (frutíferas), que perderam receita, em pelo menos 50%. Aqueles que mantinham lavoura temporária (milho, feijão, mandioca) ficaram ociosos, enfrentando dificuldades de sobrevivência com a falta de renda familiar.
"O Vale do Jaguaribe vem sofrendo muito", frisou o presidente da Federação dos Produtores do Projeto Irrigado Jaguaribe - Apodi (Fapija), Karlos Welby Neri Paiva. "Aqui no perímetro a situação vem se agravando, com o fim das culturas temporárias e redução das áreas de cultivo permanente".
A crise hídrica atinge também famílias de pequenos produtores no Vale do Baixo Jaguaribe com a escassez de água para o consumo em várias comunidades e para a produção agropecuária. É um problema grave que vai muito além dos perímetros irrigados.
O fornecimento de água para os lotes passou a feito em dias alternados. Vários produtores perfuraram por conta própria poços na esperança de manter a safra de culturas permanentes, mas muitos deles já secaram ou estão com vazão insuficiente e foram abandonados.
Quem visita os projetos de irrigação assusta-se com a mudança verificada a partir de 2014 mediante o atual ciclo de chuvas abaixo da média no Ceará, que já perdura por sete anos.
O principal fornecedor de água é o Açude Castanhão por meio de liberação para o Rio Jaguaribe. O reservatório no ano passado chegou a 2,2% de sua capacidade e atualmente está com 6,4%. O reservatório, o maior do Ceará, tem o papel de atender demandas do Médio e Baixo Jaguaribe e da Região Metropolitana de Fortaleza.
Até 2014, o Perímetro Irrigado Jaguaribe - Apodi recebia em média 3,7 metros cúbicos por segundo; hoje oscila entre 0,9m3/s e 1,07m3/s. A área irrigada foi superior a 5 mil hectares. Atualmente, são irrigados apenas 2 mil hectares, e de forma irregular. "As culturas temporárias, produção de sementes para o governo e milho verde para silagem (que era comercializado para criadores do Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará) acabaram", observou Welby Neri. "Zerou praticamente tudo".
Há quatro anos que mais de 150 produtores estão sem produzir nada, sem receita mensal e tendo que sobreviver trabalhando em outras atividades ou em áreas fora do perímetro.
Implantado em 1988 pelo Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs), o Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi tem 324 lotes, cuja área varia entre 4 a 16 hectares. Inicialmente, a irrigação era feita por liberação de água do Açude Orós. Com a construção do Castanhão, esse reservatório passou a atender a demanda.
Em 30 anos, houve um aumento de áreas irrigadas em outros municípios por iniciativa dos produtores, ocorreu a implantação do projeto de irrigação Tabuleiro de Russas (2004), criatórios de camarão e aumento do consumo de água na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), incluindo o Porto do Pecém, com termoelétrica e a siderúrgica. Tudo isso gerou aumento da demanda por água.
Os produtores rurais e integrantes dos Comitês de Bacia Hidrográficas (Banabuiú, Jaguaribe e Salgado) reclamam em cada reunião a necessidade de medidas compensatórias por causa da retirada de água para a RMF. "Essa é uma questão nunca resolvida", lamentou Welby Neri. "Poderiam ser feitos poços, tanques revestidos, modificação em sistemas de irrigação e maior rigor na fiscalização para combater desvio de água".
O produtor de banana José Gadelha amarga uma queda superior a 30%. Há mais de dez anos na atividade, chegou a cultivar 30 hectares da fruta, da variedade pacovan. "Fiz poços profundos porque se fosse só depender da água do projeto a redução da área seria superior a 50%", explicou. "Tinha 15 trabalhadores, hoje tenho oito".
Comprador
Além de produtor, Gadelha é comprador de banana e revende a fruta para a Ceasa de Belém, no Pará. "Por semana, comercializo 15 mil quilos, mas poderia ser bem mais", pontuou. "Essa crise de água está praticamente acabando com a gente".
Osmarino Andrade desde criança trabalhava com o pai na agricultura de sequeiro (que depende exclusivamente da chuva). Adquiriu uma área de quatro hectares no Perímetro Irrigado Jaguaribe - Apodi. "Só consigo produzir a metade e mal", lamentou. "Colhia 12 mil quilos por mês, mas agora caiu para três mil quilos/mês".
A renda familiar de Osmarino Andrade despencou para R$ 1.500,00. "A gente continua pelejando, irriga um dia e outro não". Outra queixa comum entre os produtores refere-se à queda do preço da banana.
O quilo da fruta da variedade prata, em 2016, era vendido por R$ 2,40 na roça; agora despencou para R$ 0,50. "A nossa situação está difícil e não temos outra alternativa.
Em todo o projeto havia 4 mil hectares de banana; agora só restam dois mil hectares em um grupo de 64 fruticultores. Muitos abandonaram as suas áreas, e o plantio seca com o calor intenso e a falta de água. Só restam dez lotes que continuam produzindo por favorecimento de água de poço profundo
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Fonte. Diário do Nordeste
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