Segundo Costa, investimentos na Inteligência da Polícia Civil e em inovações tecnológicas estão entre as prioridades da Pasta que comanda, neste ano. De acordo com ele, uma série de ferramentas que serão lançadas FOTO: HELENE SANTOS
Como cidadão, delegado e secretário de Segurança Pública, como você avalia o alto número de mortes no Ceará?
Toda vida importa. A gente lamenta a morte de qualquer pessoa. Mas é preciso as pessoas saberem que temos um estudo que mostra que 83% dessas pessoas mortas têm ligação com tráfico de drogas. Não são pessoas escolhidas aleatoriamente, há um fator motivador dessas mortes. As vítimas desses homicídios têm um perfil traçado. A gente leva esse assunto com muita seriedade. É fundamental uma política pública de prevenção, para a questão do uso de drogas.
Nos últimos dias, você vem afirmando que as facções já estavam presentes no Ceará há alguns anos. Faltou dar a devida importância a essas organizações, quando elas se instalavam aqui?
Em 2014, o então secretário Servilho Paiva negava a presença dessas facções no Estado. Agora, ele diz que a realidade da presença de facções já existia, desde a época em que ele era secretário. Então, ele mentia quando era secretário ou desconhecia essa presença. Todas as facções partiram de dentro de presídios. É um movimento que a gente acompanha. PCC, Comando Vermelho já existem há muitos anos no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em que momento chegaram ao Ceará? Já está com alguns anos. Sempre houve um movimento de negar a presença delas. Apesar dessa negação oficial na época, não dá para dizer que não foi dada atenção ao caso ou que não existiu nenhum trabalho.
Os problemas causados pelas facções no Ceará estão ligados ao tráfico de drogas?
O que mais movimenta, hoje, as facções dentro do Estado do Ceará, a maior fonte de rentabilidade, de lucro, são as drogas. Hoje, a realidade do nosso País é que todo crack e cocaína comercializado vem de países como Colômbia, Peru e Bolívia. Entram pelas nossas fronteiras e chegam aos estados.
Hoje, qual a necessidade de uma intervenção federal no Ceará?
Não há necessidade disso. Tem estados que, de repente, não conseguem pagar nem a folha, nem investir, não conseguem reagir em relação a questão do crime, aí é algo muito preocupante. No início do ano passado, o Governo Federal cogitou uma ajuda, não intervenção, para o Estado do Ceará. A ajuda era mandar 250 policiais da Força Nacional para fazer patrulhamento. Acabamos de colocar nas ruas 2.700 policiais militares. Esse tipo de ajuda não é o que vai resolver nosso problema de violência.
O que preciso ser feito pela União para que esse problema seja resolvido?
Precisamos que a União cumpra o papel dela. Eles estão retirando investimentos. Como é que esse Governo vai assumir o papel do Estado? Como delegado da Polícia Federal que sou, eu conheço o cenário do País. Enquanto não se trabalhar com foco nas fronteiras, não tem como combater o tráfico de drogas.
Em reportagem especial publicada no Diário do Nordeste, na semana passada, a Polícia Federal falou sobre os desafios para a fiscalização das fronteiras. O patrulhamento tem sido ineficaz?
O patrulhamento da costa marítima brasileira é muito frágil. No País, também tem as regiões aéreas cegas, que não são cobertas por radares, principalmente no Centro Oeste. Isso permite que as aeronaves voem e não sejam registradas. Tem que melhorar também a questão do espaço aéreo.
Por qual meio mais chega droga ao Estado do Ceará?
O forte mesmo de transporte de drogas são as rotas terrestres. Entra muita droga por via terrestre lá na fronteira. Praticamente toda a droga que vem para o Ceará, vem das rotas terrestres. São muitas estradas e essa droga passa por vários estados até chegar aqui.
O que está sendo feito pelo Governo do Estado para barrar a entrada dos narcóticos?
Nós reduzimos o foco do BPRE (Batalhão de Policiamento Rodoviário Estadual) no patrulhamento de trânsito e aumentamos o foco no patrulhamento policial. Os números de apreensões de drogas cresceram bastante. Nossa luta agora é que os estados que fazem divisa conosco, como Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Piauí compartilhem dados conosco.
Recentemente, houve investimento nas Polícias do Estado, e mesmo assim, o número de homicídios não baixou. Você acredita que essa baixa só virá com uma trégua entre as facções?
Não é só investimento em efetivo que vai resolver. Esse investimento já mostra impacto positivo em assaltos, de maio para cá houve uma queda grande. Esse trabalho de patrulhamento nas ruas teve impacto de imediato nos assaltos, em relação aos homicídios será um impacto a médio prazo, porque também precisamos de um trabalho de investigação.
Além do combate às facções, quais são as metas da Segurança Pública, no Ceará, para o ano de 2018?
Investimentos na Inteligência da Polícia Civil e em ferramentas tecnológicas. Nós temos uma série de ferramentas que serão lançadas. Vamos anunciar quando estiverem prestes a sair. Queremos ter controle de quem são os criminosos em tempo real. Isso também faz parte de uma prevenção. Para melhorar o mapeamento, saber quem está sendo abordando na rua. Também queremos ampliar a o trabalho das Unisegs, ver quais territórios são prioritários e também territorializar a PM nas periferias.
Pretende pleitear algum outro cargo dentro do Governo?
Não. Não vou ser candidato e nenhum cargo eletivo. Não tenho interesse. Descarto. Sou candidato a permanecer na Secretaria de Segurança Pública, em caso de reeleição do Camilo. Não quero ser mais um policial que vai para a política. Quero continuar enfrentando essa problemática com mais garra e disposição.
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