Dezesseis minutos. Partindo da soleira da parede das comportas, eis o tempo da caminhada sob o sol quente até que os pés encontrem o primeiro sinal de água. Impossível ser feita sem o auxílio de um barco, antes da meia dúzia de anos de poucas chuvas. A travessia teria início sobre uma coluna de água de 15 metros de profundidade e chegaria aos 39 metros.
Onde antes jazia o mar de água doce do Açude Castanhão, em Alto Santo, na microrregião do Baixo Jaguaribe, agora, são 786 largos passos no chão ressequido, poeirento e pedregulhoso, até dar com a lâmina de água. O percurso é entrecortado pelos galhos retorcidos do que restou de uma mata de caatinga, antes submersa. Os arbustos sertanejos de mussambé pululam no descampado. As ilhotas, de que mal se viam os cumes quando cobertas de água, crescem sob a vista.
O chão se abre em mosaico e guarda um triz de umidade lamacenta aqui e acolá. Com apenas 2,42% dos 6,7 bilhões de m³ do que pode comportar, o reservatório, o maior açude público para múltiplos usos do Brasil, agoniza. “Os dois momentos mais difíceis que vivi aqui foram a realocação da população da cidade velha (Jaguaribara), porque tivemos de lidar com a dificuldade das pessoas de largarem suas histórias pra vir pra cá; e o segundo é esse que a gente vive agora, de ter de administrar uma coisa com 2% do volume de água”, descreve Fernando Pimentel de Andrade, coordenador do Castanhão pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs).
Ele detalha que o nível do açude (por vazão e evaporação) desce em média 1 milhão de m³ e quatro centímetros por dia. Andrade assinala que o espelho d’água, que já ocupou 36 mil hectares, está reduzido hoje a não mais que 2 mil hectares. O resto é um descampado cinza, que já serve de pasto para ogado. Marcando 66,52 nas réguas que indicam as cotas, há um impasse entre a Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) e o Dnocs quanto ao volume morto do açude.
Para o Dnocs, segundo Fernando Andrade, dados indicam que nível morto é atingido na cota 71, alcançada no dia 29 de agosto. Já o presidente da Cogerh, João Lúcio Farias, informa que só é atingido quando não é possível liberar água pela válvula e um sistema de bombeamento tem de ser acionado. João Lúcio acredita que esse nível será na cota 65 - ou seja, quando o açude baixar mais 1,52 metros. Assim, se não houver uma quadra chuvosa intensa, em 38 dias o Castanhão estará no volume morto.
Vindos da Paraíba para ganhar a vida de pesca no Castanhão, os primos Leonardo, 26, e Adalberto Soares, 31, veem padecer a principal atividade da região. “A gente tirava 800 quilos de peixe por semana. Hoje, quando dá 50 quilos é muito”, lamenta Leonardo.
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