-->

De Russas para o mundo

Resultado de uma parceria da Secretaria de Audiovisual do Ministério da Cultura (SAv/MinC) com a Agência Nacional do Cinema (Ancine), o Edital Longa BO Ficção já contemplou 38 filmes de baixo orçamento (daí a sigla) com recursos financeiros para que estas produções pudessem ser realizadas. Este ano, 10 longas foram selecionados para receber o incentivo e, dentre eles, está "Pacarrete", do cearense Allan Deberton.

Embora o cineasta já tenha dirigido diversos curtas premiados - tais como "Doce de Coco" e "O Melhor Amigo" - este é o primeiro longa em que ele atua como diretor, um projeto engavetado há cerca de dez anos, mas responsável por lhe fazer seguir adiante na carreira do cinema.

Sendo o diretor natural de Russas, a 165 km de Fortaleza, "Pacarrete" funciona como um registro histórico da pequena cidade interiorana e, baseado em fatos reais, conta a história de uma icônica moradora do lugar, que gostava de ser chamada de Pacarrete.
De-Russas-para-o-mundo

"Quando as pessoas de Russas falam dela, costumam associar a uma pessoa louca porque ela era muito diferente. Se vestia diferente, falava diferente. Parecia uma francesa perdida no Interior", declara Allan, definindo a personagem como uma heroína às avessas. "Heroína porque ela era muito à frente do seu tempo. Tinha muito bom gosto, era bailarina e sua arte era o que lhe incentivava a enfrentar as adversidades, como o preconceito", pontua.

Personagem

Pacarrete teve uma longa vida - nasceu em 1912 e veio a óbito em 2004, aos 92 anos. Tinha o sonho de ser bailarina profissional, abrir uma escola de dança no Interior e promover as artes em sua cidade natal. Entretanto, esses sonhos acabavam por ser contraditórios ao município conservador, que crescia de forma desordenada e deixava a cultura em segundo plano.
Além disso, a protagonista era extremamente politizada, dizia ter viajado bastante e afirmava ser amiga de grandes maestros e professores de dança. "Mas quando ela fala desse passado e você vê a imagem da protagonista, você não consegue acreditar. Porque ela parece uma pessoa de rua", explica Allan.

Para o diretor, Pacarrete veio a se tornar um grande "mito" de Russas, mas tem sido esquecida por muitos. "Eu convivia com ela quando era bem jovem, ainda fazia o Ensino Médio. Mas as pessoas falavam da palavra 'pacarrete' como se isso significasse 'louco'. Elas diziam 'ei, deixa de ser pacarrete!'", relembra Allan.

A motivação para conhecer a personagem a fundo veio apenas quando o cineasta conseguiu libertar-se de todas as ideias e preconceitos que rodeavam a mulher.

Assim, Allan descobriu uma personagem forte, que não se deixava ser injustiçada por conta da idade ou do gênero e lutava veementemente por seus direitos.

Produção
O apelido pelo o qual ela gostava de ser chamada, aliás, vinha da palavra francesa "pâquerette", que significa "margarida", e era o nome de uma personagem que havia interpretado no ballet, quando mais jovem. "Desde quando eu fazia faculdade de cinema, em 2007, voltava de férias pra Russas e captava vídeos de vizinhas dela, senhoras com quem conversava, conterrâneas", recorda o diretor. "Eram testemunhos de quem a Pacarrete era na vida real", completa Allan, ressaltando ainda todos os anos que passou maturando o projeto, cuja trajetória de elaboração foi longa.

"A produção vai levar em torno de um ano e meio ou dois. A aprovação no edital do MinC dá uma acelerada no processo no sentido de amadurecimento do roteiro, definição do elenco e pesquisa de locação", afirma Allan, estimando que as filmagens tenham início no segundo semestre de 2018.

Entretanto, o papel de Pacarrete já foi atribuído à atriz Marcélia Cartaxo, que se destacou principalmente por sua atuação na adaptação cinematográfica do livro "A Hora da Estrela" de Clarice Lispector.

Acesso

Para o diretor, iniciativas como o edital do MinC são oportunidades de criar, inovar e experimentar. "Os filmes contemplados, muitas vezes são bem sucedidos em festivais importantes e acabam representando o Brasil em várias competições internacionais, levando a cultura brasileira para fora", comenta Allan, destacando ainda a importância de ações de difusão do cinema brasileiro.

Tendo vivido até seus 18 anos no Interior, o contato que o cineasta tinha com os filmes restringia-se, basicamente, aos clássicos norte-americanos e longas de artes marciais que chegavam ao cinema de rua que existia em Russas.

"Então a minha formação era mesmo esses filmes e também muitos da 'Sessão da Tarde'. Quando entrei na faculdade de cinema, fizeram foi rir de mim. Porque todo mundo tinha referências estrangeiras e eu tinha 'Goonies', 'Tubarão', 'Lagoa Azul'?", lembra Allan, entre risos.

Quando passou a atuar como curador de festivais de cinema, percebeu que oa produção brasileira tinha sobre o público um efeito positivamente diferente das estrangeiras. "A plateia se encontra na tela, ela não apenas se identifica com as histórias. Porque o cinema nacional tem muito disso, por se tratar da nossa realidade", pontua, ressaltando a importância de fazer com que as pessoas tenham, de fato, acesso aos filmes, especialmente aos formatos de curta-metragem - que costumam marcar o início da carreira de muitos cineastas.

Atualmente, Allan está atuando como produtor de uma série de TV e um longa-metragem, além de buscar oportunidade para transformar seu curta "O Melhor Amigo" em um longa. Em suas produções autorais, é possível identificar personagens inquietos que buscam uma transformação, muitas vezes desconhecida por eles mesmos.

"Eles costumam ficar no limiar entre a passividade e a atitude. E acho que a gente tem muito disso", afirma, sempre buscando aproximar-se do público brasileiro, sem deixar suas raízes de lado.

Luciano Almeida

Olá, sou o Luciano Almeida e é um prazer me apresentar a vocês. Tenho 41 anos e sempre vivi em Quixeré, uma cidade que conheço como a palma da minha mão. Sou um rapaz negro de pele clara, apaixonado por desenho, leitura e fotografia! Foi essa paixão que me inspirou a criar este blog. Aqui, meu objetivo é trazer informações relevantes para o Vale do Jaguaribe, uma região situada no centro-leste do Ceará, e também compartilhar um pouco do dia a dia dos jaguaribanos. Vou abordar temas como educação, saúde, cultura e, especialmente, a importância de sermos reconhecidos como cidadãos, com nossas próprias opiniões e vontades. Quero explorar nossa identidade neste mundo e como nos conectamos a ela. Além disso, pretendo destacar lugares interessantes nas cidades da região. Todos os dias, aqui no Jornal Vale em Destaque, você encontrará novidades fresquinhas para ficar bem informado.

Postagem Anterior Próxima Postagem

Formulário de contato