O fim do acordo de paz entre facções criminosas nacionais impulsionou conflitos entre gangues na Barra do Ceará e em bairros adjacentes, durante os meses de outubro e novembro. Troca de tiros, mortes nas ruas e 'toques de recolher' têm ocorrido com frequência nos últimos dias, principalmente à noite, devolvendo o medo aos moradores da região.
Novembro foi o mês de 2016 em que a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) registrou o maior número de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) na Área Integrada de Segurança (AIS) 1, que compreende a Barra do Ceará.
Até o último dia 28 do mês passado (os dois últimos dias do mês ainda não continham dados consolidados no site da SSPDS quando esta edição foi fechada), foram 26 mortes na AIS 1, entre homicídios, latrocínios (roubo seguido de morte) e lesões a bala seguidas de morte.
O crescimento da violência na área já tinha se apresentado no mês de outubro, quando foram registradas 21 mortes, que era a maior taxa mensal até então. Entretanto, no mês seguinte, os conflitos entre as gangues se tornaram mais constantes, resultando num aumento de 23,8%.
A média mensal de mortes violentas na AIS 1 era de 15, entre os meses de janeiro e setembro, e aumentou para 16,5, quando considerados também os dois últimos meses na conta. A AIS 1 é ainda a área que apresentou o maior número de CVLIs em Fortaleza, durante o mês de novembro, até o dia 28 (na a AIS 2 foram 22; na AIS 3, oito; na AIS 4, oito também; na AIS 5, 21; e na AIS 6, um). A área mais crítica engloba os bairros Barra do Ceará, Vila Velha, Jardim Guanabara, Jardim Iracema e Quintino Cunha, onde aconteceram 17 das mortes violentas.
Embates
O delegado da Polícia Civil Tarcísio Coelho, titular do 33º DP (Goiabeiras), afirmou que percebeu um aumento no número de crimes com mortes violentas que foram levados à Delegacia para serem investigados nas últimas semanas, apesar de estar alocado na unidade há pouco tempo.
Segundo o delegado, a maioria das mortes foi motivada por brigas de gangues de comunidades diferentes pelo domínio do tráfico de drogas na região. "Realmente, essa é uma área crítica, dominada por facções criminosas, com vários focos de tráfico de drogas. Os conflitos aumentaram e a região está precisando de uma efetividade maior da Polícia", destacou Coelho.
Um dos conflitos entre gangues deixou três pessoas mortas na região. Na noite do dia 19 de novembro, Leonardo de Oliveira Sousa, 25, e um adolescente de 15 anos foram assassinados em uma troca de tiros com uma gangue rival, próximo à Areninha da Barra do Ceará (antigo Campo do Grêmio), na comunidade das Goiabeiras.
No conflito, além dos mortos, três pessoas ficaram feridas, sendo que uma delas foi alvo de uma 'bala perdida' e morreu depois de ser levado ao hospital. A vítima não tinha envolvimento com o tráfico de entorpecentes e era um adolescente com transtornos mentais.
Segundo a Polícia, os responsáveis pelo triplo homicídio pertencem à gangue da Favela do Gueto, que fica localizada entre as avenidas Senador Roberto Kennedy e Francisco Sá, onde antes funcionava a fábrica de jeans Villejack. O suspeito de liderar a ação criminosa é o traficante José Flávio Rodrigues Pereira, conhecido como 'Gago'.
Um dia antes da morte dos três jovens, outros dois rapazes tinham sido assassinados na Travessa Santa Rita, no bairro Quintino Cunha. Israel de Souza Lima, 18, e Robson Rodrigues Pereira, 21, foram mortos por quatro criminosos encapuzados.
A reportagem entrou em contato com o relações públicas da Polícia Militar. O tenente-coronel Andrade Mendonça disse que não se pronunciaria sobre o aumento de mortes na AIS 1.
Histórico
Uma fonte da Polícia que trabalha na região afirmou à reportagem que a Barra do Ceará e os bairros vizinhos estavam menos violentos desde o início do ano passado, mas voltaram "ao normal" nas últimas semanas. Reportagem do Diário do Nordeste publicada em 21 de janeiro de 2015 mostrou regras criadas por traficantes na comunidade das Goiabeiras, na Barra do Ceará, que eram impostas através de pichações nos muros e no asfalto como "se subir de carro, abaixa o vidro e se subir de moto, tira o capacete" e "suba direito, senão a bala come, safado". Os moradores da Barra do Ceará confirmam o aumento da violência e da sensação de insegurança. Um comerciante de 48 anos e uma empregada doméstica de 60 anos (identidades preservadas) afirmaram que têm ouvido, de casa, barulhos de tiros durante a noite com mais frequência. Já um professor do bairro afirmou que a "mancha criminal na Barra do Ceará é muito grande".
Fonte DN
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