por Honório Barbosa - Colaborador DO DIÁRIO DONORDESTE
Senador Pompeu Neste município do Interior do Ceará, localizado no Sertão Central, em pleno período de seca, agricultores familiares da localidade de Muxinató, nas margens da CE-060, conseguem produzir alimentos para o próprio consumo: legumes, frutas, cereais e hortaliças, além da criação de animais. O segredo está no uso racional da água da barragem que abastece a comunidade.
Depois de cinco anos de chuvas irregulares, abaixo da média histórica, o sertão cearense enfrenta dificuldades de cultivo das culturas de subsistência. O Sertão Central é uma das áreas mais atingidas pela irregularidade das precipitações. A seca prevalece. Os açudes não receberam recarga significativa. E na maioria das áreas, o quadro é de frustração de safra.
Em algumas áreas, é possível produzir feijão, batata-doce, jerimum, macaxeira, verduras e frutas. Em Muxinató, uma pequena vila, agricultores de base familiar, mantém a tradição do cultivo das culturas básicas de consumo. José Gomes da Silva é um exemplo de perseverança. Criou 12 filhos, tirando o sustento da roça, e não se cansa de trabalhar.
Em uma área de 34 hectares, José Gomes e alguns filhos mantêm a atividade agrícola - plantio e criação de animais. Cultiva 15 ha e o restante da propriedade é destinada à preservação da mata nativa. A produção é mantida graças à água que ainda resta acumulada na barragem, construída em 1997, e que atende à comunidade.
"É a nossa principal fonte de abastecimento", disse o agricultor Expedito Alves do Rego. Quem passa ao lado, surpreende-se com o verde que se destaca entre áreas secas e improdutivas. Há plantio de tomate, de árvores frutíferas (manga, acerola, mamão, laranja), hortaliças e também de plantas medicinais.
José Gomes lembra que nem sempre houve produção permanente no período de estiagem. Antes da barragem, os agricultores só praticavam a produção de sequeiro (aquela que depende exclusivamente da água da chuva). "O nosso segredo está na união e no trabalho em família. Temos de agradecer a Deus pelo que temos", frisou.
Pela manhã, bem cedo, as nascer do sol, os agricultores já estão no campo, junto ao balcão de hortaliças, limpando e colhendo os frutos. "Todo o plantio é feito de forma orgânica, consciente, com o uso racional da água", disse Gomes.
O agricultor Francisco Félix, depois de migrar para São Paulo e trabalhar no corte de cana-de-açúcar, resolveu fazer o caminho de volta para o Ceará. Com esforço, vem obtendo bons resultados. "Sustento a minha família da renda com a agricultura", afirmou. Dedicado à produção de hortaliças, chega a colher dez mil molhos por semana de cheiro verde - coentro e cebolinha. "A minha preocupação não é somente com a quantidade, mas com a qualidade", frisou.
A produção local é destinada em sua maior parte para abastecer o mercado de Quixeramobim e Senador Pompeu. Os agricultores observaram que havia escassez de hortaliças frente a uma demanda crescente.
Apesar do esforço das famílias da localidade, a barragem dá sinal que está secando. As chuvas neste ano não chegam para elevar o nível do reservatório. "A seca é uma preocupação de todos", disse o produtor rural familiar Expedito Rego. "Sem chuva suficiente, vamos ter dificuldades neste ano".
A experiência de Muxinató serve de exemplo e motivação para outras comunidades rurais. O que prevalece na localidade é o esforço coletivo. A igreja dedicada a São José foi construída com trabalho dos moradores. Depois veio a construção da cozinha e galpão comunitários. A moradora Fátima Coelho destaca a fé das famílias no padroeiro: "A nossa esperança é que teremos chuvas até maio".
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