Alves é um dos ministros mais próximos de Temer e vinha se debatendo sobre a hipótese de ficar ou não no governo. Foi o primeiro a abrir mão do cargo. Na carta entregue nessa segunda-feira (28) à presidente Dilma, o ministro agradeceu à petista pela confiança e “respeitosa relação” que tiveram por 11 meses, antes de explicar a razão da demissão. “Pensei muito antes de fazê-lo, considerando as motivações e desafios que me impulsionaram a assumir o ministério. Mas o momento nacional coloca agora o PMDB diante do desafio maior de escolher o seu caminho”, afirma Henrique na carta. O peemedebista diz que o diálogo “se exauriu”.
Os ministros que se sentirem constrangidos com o rompimento estão liberados de comparecer ao encontro, mas terão até 12 de abril para deixar os respectivos cargos – é quando se completa 30 dias desde a convenção do partido. Diretores de estatais e de bancos públicos seguirão o mesmo caminho. Apadrinhados do PMDB que estiverem no segundo e terceiros escalões estão autorizados a permanecer onde estão.
O rompimento com o maior aliado representa uma dose extra de preocupação devido à possibilidade de um “efeito dominó” entre outras legendas governistas, com reflexos na comissão especial do impeachment, que analisa o pedido de afastamento da presidente.
Nessa segunda-feira (28), a batalha nos bastidores teve Dilma e seu vice na linha de frente, porém em lados opostos. A presidente reuniu seis dos sete ministros do partido no Planalto, enquanto Temer buscava apoio dos titulares na Esplanada a fim de atraí-los para a tese de romper com governo.
Na conversa com Dilma, os ministros sinalizaram que será muito difícil permanecer no governo caso o partido aprove a saída da base aliada hoje. Dois ministros afirmaram à reportagem que vão anunciar uma decisão conjunta depois que a definição do partido for formalizada. Mesmo aqueles que resistem à ideia de abandonar o cargo reconheceram que ficar no governo será muito difícil se o PMDB realmente optar por deixar a base aliada. Um deles classificou como um “banho de água fria” a decisão do PMDB do Rio de abandonar Dilma, anunciada na semana passada.
O posicionamento de alguns ministros ainda suscita dúvidas no PMDB (veja quadro). A principal incógnita é como se comportará a ministra da Agricultura, Kátia Abreu. Amiga pessoal da presidente, ela tem sido muito pressionada pelos ruralistas a deixar o governo. Poderá até reassumir o mandato de senadora e lutar contra o afastamento da presidente. Mas são grandes as chances de ela deixar o PMDB e retornar ao PSD.
Os outros dois ministros que geram expectativas são Eduardo Braga (Minas e Energia) e Marcelo Castro (Saúde). Braga tem feito discursos explícitos a favor da democracia, mas não deve ter dificuldades em acompanhar a decisão partidária. Não agrada a Castro deixar o ministério, mas ele é presidente estadual do PMDB piauiense e terá dificuldades para justificar o apego ao cargo à base local.
Ex-presidente aposta na dissidência
Em entrevista nessa segunda-feira (28) a 24 correspondentes de veículos estrangeiros, em São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ver com tristeza a saída do PMDB do governo, mas acredita que ainda há chance de um acordo que mantenha parte da legenda na base de apoio governista. “Pode acontecer o que aconteceu em 2003 de ter uma coalizão sem a concordância da direção”, disse.
Na avaliação do petista, a provável saída do PMDB do governo não significará um abandono total do partido. Lula lembrou o início de seu governo, em 2003, quando parte do PMDB apoiava o seu governo, apesar de a cúpula da legenda não ter fechado uma aliança. O petista, de qualquer forma, lamentou a saída dos aliados. “Vejo com muita tristeza o PMDB abandonar o governo ou se afastar. Pelo que eu estou sabendo, os ministros do PMDB não sairão nem a Dilma quer que eles saiam.”
Segundo peemedebistas, o vice-presidente Michel Temer se encontrou no domingo à noite com Lula, em São Paulo, e teria dito ao petista que não há mais condições de se reverter o quadro. Na conversa, Lula indagou inclusive sobre a possibilidade de adiamento da reunião do diretório marcada para hoje. Mas, segundo relatos de presentes, Temer disse que o resultado pró-rompimento já estava consolidado e que não seria mais possível “segurar o partido”. “O rompimento é definitivo”, teria dito o vice. Lula desembarcou no fim da tarde em Brasília para buscar a maior dissidência possível no partido.
Quem é quem
Confira o que pensa cada um dos ministros do PMDB
Eduardo Braga
Minas e Energia
» Faz um discurso em defesa da democracia, da institucionalidade, mas vai acompanhar o partido sem traumas se a decisão for pelo desembarque
Kátia Abreu
Agricultura
» Está pressionada pela base ruralista, que classifica o atual governo de militantes, após a entrada de Lula. Foi aconselhada a acompanhar o partido, mas pode se recusar a deixar o cargo ou ir para o PSD, pela amizade que nutre por Dilma.
Helder Barbalho
Portos
» Filho do senador Jader Barbalho, que resistia à tese de o partido deixar o governo. Mas, por ser fiel à legenda e à maioria partidária, se a decisão for por aclamação, não deve apresentar empecilhos ao desembarque
Henrique Eduardo Alves
Turismo
» Pediu exoneração nessa segunda-feira (28). Foi para o governo por não ter mandato e para garantir o foro privilegiado.
Celso Pansera
Ciência e Tecnologia
» Indicação pessoal do líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ). Não lhe agrada deixar o ministério, mas não tem força para comprar uma briga com o diretório do PMDB fluminense
Marcelo Castro
Saúde
» Também indicação de Leonardo Picciani. É presidente do diretório estadual do PMDB piauiense e enfrenta pressão das suas bases eleitorais
Mauro Lopes
Aviação Civil
» Está em fim de carreira e já havia dito a interlocutores que ser ministro coroaria a trajetória política. Foi nomeado à revelia da direção partidária. O diretório de Minas apoia o rompimento
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