00:00 · 22.10.2015 por Honório Barbosa - Colaborador
Iguatu O ano de 2015 registra o menor volume médio acumulado nos açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) nos últimos 21 anos. O índice atual é de apenas 14,8%. É o pior desde 1994, quando a Cogerh começou a fazer o monitoramento. A tendência para os próximos três meses é de perda intensa por evaporação e consumo. Esse ano também entra para a história por ter registrado o terceiro menor aporte de água nos reservatórios desde 1986.
Terminada a quadra invernosa de 2015 (fevereiro a maio), os reservatórios acumulavam em média 21%, segundo dados do Gerenciamento de Recursos Hídricos da Cogerh. O atual período de seca, iniciado em 2012, é o mais longo desde 1973, segundo estudos da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
"Desde 2012 que vêm ocorrendo chuvas abaixo da média histórica e seguidas perdas no volume dos açudes", observa o técnico da Funceme, Robson Franklin Silva. "O quadro atual é bastante preocupante".
Aporte
No período entre 1986 e 2015, o menor aporte (recarga dos reservatórios) ocorreu em 1993, com apenas 0,11%. Depois, em 1998, com apenas 0,36% e agora em 2015, 0,59%. A baixa recarga reflete nos índices atuais que é um dos mais baixos desde quando começou a haver o monitoramento por parte da Cogerh.
Em 20 de junho passado, o volume médio dos reservatórios era de 19,19%. Houve uma queda de 5,11% nos últimos quatro meses. A persistir essa taxa de perda, é provável que no início da quadra invernosa de 2016 (fevereiro), as bacias hidrográficas devam acumular em média cerca de 10%.
No momento, no Ceará, 40 açudes estão com volume morto e 27 são considerados secos. Não há nenhum açude transbordando. A Bacia Hidrográfica em situação mais crítica é a do Baixo Jaguaribe com volume médio de apenas 0,87%, seguida dos Sertões de Crateús com 1,72% e Bacia do Curu, que está com 3,44%. A Bacia do Banabuiú que abrange o Sertão Central, acumula somente 3,67%. Das 12 bacias hidrográficas, quatro estão em situação muito crítica (Baixo Jaguaribe, Curu, Sertões de Crateús e Banabuiú) e seis em condição crítica (Coreaú, Ibiapaba, Acaraú, Metropolitanas, Médio Jaguaribe e Salgado). Duas encontram-se em alerta (Alto Jaguaribe e Litoral).
Robson Franklin Silva observa que o governo vem adotando medidas para enfrentar a crise hídrica no Estado, a partir de redução de oferta de água na Região Metropolitana de Fortaleza, campanha educativa de uso consciente, incentivo ao reúso e ampliação de perfuração de poços profundos.
Cada cearense é convidado a economizar água e, a partir de agora, a prioridade deverá ser o uso para consumo humano e animal, com restrição para o fornecimento do recurso hídrico para projetos de irrigação.
As previsões climáticas para 2016 são desanimadoras ante a presença do fenômeno meteorológico El Niño (aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial) que exerce influência direta no sistema de chuvas no Semiárido nordestino, impedindo aproximação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), principal sistema causador de chuvas na região. O El Niño está na modalidade intensa. Na maioria dos anos em que há atuação do El Niño, o período de maiores precipitações no Ceará é irregular e tende a não atingir a categoria em torno da média climatológica. Ou seja, é seca. O Estado enfrenta o quarto ano seguido de chuvas abaixo da média e as reservas hídricas estão se exaurindo.
Severo
Dados da Fundação Cearense de Meteorologia e de Recursos Hídricos (Funceme) revelam que, no período de janeiro de 1973 a maio deste ano, o Estado do Ceará enfrentou oito períodos de seca meteorológica, dos quais, quatro foram mais severos e duradouros.
O mais crítico de todos é o atual que começou em abril de 2012 e permanece até agora, sob a classificação de 'seca excepcional', a categoria mais intensa.
Recentemente, o governador do Ceará Camilo Santana decretou 'situação crítica de escassez hídrica em todo o Ceará'. Nas regiões mais secas - Sertão dos Inhamuns, Crateús e Sertão Central - a escassez de água torna-se mais intensa a cada mês.
A água distribuída por caminhões pipas não é de boa qualidade. A principal alternativa para o abastecimento de cidades e vilas rurais é a perfuração de poços profundos, mas a geologia cearense assentada em sua maioria em rochas cristalinas dificulta o acesso à água em quantidade e qualidade. É salobra e apresenta vazão reduzida. O índice de poços secos chega a 30%.
Mais informações:
Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) - Fone: (85) 3101. 1117
Cogerh - Fone: (85) 3218. 7024