por Amaury Alencar - Colaborador
Tauá A situação dos agricultores e pecuaristas da região dos Inhamuns, em virtude da seca que ora enfrentamos, é crítica. Aproximadamente quatro mil produtores rurais da região estão comprando casca de mandioca, no Estado do Pará, a fim de que os rebanhos bovino, ovino e caprino possam consumir, em virtude da estiagem prolongada na região.
A situação é preocupante. Os produtores não sabem mais o que fazer para manter seus rebanhos. Eles afirmam que o custo com esse material, conduzido pro uma longa distância, é muito grande. Para proceder a aquisição, adotaram o sistema de consórcio. Os animais sofrem bastante com a falta de água e da pastagem. A dificuldade é a mesma em municípios como Tauá, Quiterianópolis, Aiuaba, Parambu, Independência, Crateús, Catarina, Arneiroz e Novo Oriente.
A mandioca adquirida no Estado do Pará chega para os produtores rurais nos Inhamuns ao custo de 22 centavos, o quilo. Lá, é comprada a 17 centavos. Um quilo de milho, que custava 20 centavos, hoje é comercializado a 46 centavos. Já o saco de milho de 60 kg, que antes custava entre 28 a 30 reais, hoje custa R$ 45. O resíduo da torta do algodão passou de R$ 30 para R$ 54.
O Município de Tauá tem hoje um rebanho de 54 mil bovinos, 90 mil caprinos e 130 mil ovinos. A região dos Inhamuns tem hoje 8 mil produtores rurais. A situação da água também é delicada para os produtores. Muitos mananciais estão secando ou já totalmente secos. Muitas localidades já dependem do abastecimento de carros-pipa.
João Manuel da Silva, produtor da zona rural de Tauá, disse que já perdeu aproximadamente 35% do rebanho nos últimos três meses. "A situação é desesperadora. Ver um animal agonizando, com fome e com sede é algo que destrói a gente por dentro", afirma o produtor desolado.
Carlos Martins dos Santos, proprietário de uma pequena fazenda a 15Km de distância da sede do Município de Parambu, disse que todos estão angustiados com a situação. "Não sabemos mais o que fazer. Os nossos governantes só falam, cortam gastos daqui e dali, mas uma medida eficaz de controle e convivência com a seca não existe. Os seres humanos conseguem se virar de todo jeito, mas os animais dependem de nós".
Maria Ferreira, agricultora e residente na zona rural de Aiuaba, disse que, na pequena propriedade dela, até criar galinha está difícil. "Eu tinha cinco vaquinhas pra tirar leite, fazer um queijinho de vez em quando, mas tive que vender. Muitos estão vendendo seus animais a preço abaixo de mercado, para não vê-los morrer".
O furto de animais em Tauá é a maior ameaça aos criadores, mais até do que a própria seca que, por mais forte que seja, não se compara à ação dos ladrões. Vendo o seu plantel diminuir a cada dia, o criador Solé Cavalcante, residente no Perímetro Irrigado Várzea do Boi, procurou a Câmara Municipal, durante a sessão do último dia 28 de setembro, para fazer uma alerta às autoridades.
Solé procurou as polícias, Militar e Civil, Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri) e Vigilância Sanitária. "Fui bem atendido, mas não consegui resolver o problema. Não tenho mais a quem apelar. Somente nos últimos dois meses, mais de 50 criações minhas foram furtadas. No último roubo, até um cartucho de arma calibre 12 foi encontrado próximo ao local onde as criações foram embarcadas".
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