ESCASSEZ: Fortaleza pode sofrer racionamento em 2016

por Renato Bezerra/Germano Ribeiro - Repórteres

Dos 153 açudes do Ceará, 82 estão com a capacidade abaixo de 10%. O Açude Quixeramobim, por exemplo, está com 0,5% ( Foto: Alex Pimentel )
Clique na imagem para ampliar 

As consequências da seca deste ano no Estado podem refletir em medidas mais drásticas já em 2016. Isso porque, não havendo o uso da água de uma forma mais sustentável desde já, assim como um reforço nas medidas de controle e distribuição do recurso, é possível haver racionamento na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) a partir de setembro do próximo ano. A informação foi dada pelo titular da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Francisco Teixeira, após reunião de trabalho, ontem, entre o secretariado e o governador Camilo Santana.
Além do trabalho de controle da oferta hídrica dada à Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) por meio da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), que resulta em uma economia atual de mais de 5%, o secretário destaca a necessidade do uso consciente do recurso por parte da população. "Queremos economizar mais ainda e, além dessa restrição que a Cogerh está estabelecendo junto à Cagece, ou seja, ofertando menos água no Açude Gavião e na ETA Gavião, nós queremos que a população também contribua nas suas casas para um uso mais racional da água e com outras medidas de educação para ter um uso menor possível. Se atingirmos a meta de aumentar a economia no Vale do Jaguaribe e na Região Metropolitana, podemos não ter problemas mais sérios em 2016".
De acordo com as simulações realizadas, ele explica ser possível descartar o risco de racionamento no próximo ano, se o controle realizado permitir uma vazão de 22 metros cúbicos por segundo. "Se a gente tiver vazão maior do que essa, não conseguimos chegar a 2017. A gente começa a precisar de um racionamento talvez em setembro do próximo ano. Então, se nós economizarmos, não precisaremos de medidas mais drásticas de racionamento ao longo de 2016, precisando só em 2017, caso não chova", 
O racionamento de água se torna uma realidade cada vez mais próxima à medida que o nível dos reservatórios do Estado diminui. Atualmente, com 3,10 bilhões m³, o volume dos açudes atinge apenas 16,4% de sua capacidade total, de 18,79 bilhões m³. "Desde que a Cogerh desenvolve o monitoramento, há pelo menos 20 anos ou mais, esse talvez seja o pior índice apresentado pelos reservatórios", disse Francisco Teixeira.

Capacidade
Dos 153 açudes do Ceará, 82 estão com a capacidade abaixo de 10%. A região que apresenta a menor quantidade de água armazenada é o Baixo Jaguaribe, onde o Açude Santo Antônio de Russas tem apenas 0,88% do volume total. Não muito melhor está a área dos Sertões de Crateús. Lá, seis dos dez reservatórios têm menos de 1% de água, sendo que um deles já secou e outros três praticamente zeraram a reserva.
As regiões do Curu e Banabuiú estão em situação semelhante, com 3,90% e 4,25%, respectivamente. As áreas com maior volume, ainda que preocupantes, são o Litoral (36,42), Alto Jaguaribe (32,65%) e Coreaú (30,08%). A Região Metropolitana tem 28,76%. Com isso, pelo menos 38 municípios correm o risco de entrar em colapso por falta d'água até o fim do semestre, especialmente com o aumento da temperatura nos últimos meses do ano.
Numa ação emergencial, o governo tem perfurado poços profundos em todo o Estado. Entretanto, como 80% do subsolo do sertão é rochoso, o índice de perda de poços, ou seja, a possibilidades deles ficarem secos, é de 30%. Outra solução emergencial são as adutoras, alternativa, no entanto, que também poderá se esgotar, caso as precipitações não se normalizem em 2016. Até o fim do ano, quatro adutoras de montagem devem ser instaladas em Arneiroz, Independência, Ibicuitinga e Quixeramobim, ao custo de R$ 49 milhões.
"O governador Camilo Santana foi enfático ao afirmar que não faltará dinheiro para garantir água para as populações", disse o titular da SRH. Ainda sobre os reservatórios, o gestor destaca a construção de poços nos municípios do Interior já em situação de racionamento. "Em cada município, a gente tem feito em média de dez a vinte poços", acrescenta o gestor.
FONTE DN